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Entulhos: uma usina de reclamações

Cresce o problema de descarte irregular em Campos, apesar de existir uma usina de beneficiamento desse material no município

Campos
Por Redação
2 de abril de 2018 - 0h01

A usina para reciclar entulhos que poderia estar gerando empregos e contribuir para o meio-ambiente em Campos está parada na CODIN. (Foto: Gerson Gomes/Ascom)

Por OCINEI TRINDADE, ALOYSIO BALBI e ULLI MARQUES

Pelo número 0800 282 2695 da empresa Vital Engenharia que presta serviços de limpeza à Prefeitura de Campos, existe um serviço chamado “Alô, Entulho” para pedir a remoção de entulhos na cidade. No entanto, não há prazo definido para a coleta. Entulhos se acumulam em diversos bairros e o problema gera muita reclamação de moradores. A limitação do poder público em atender tanta demanda vai de encontro à falta de condições adequadas de descarte de entulho, além da falta de conscientização de parte da população que espalha lixo e entulhos em ruas e terrenos baldios.
De acordo com a dona de casa Cristina Azevedo, no Parque Califórnia, por três meses ela e os vizinhos aguardaram a retirada de restos de obras e outros resíduos acumulados na calçada.

No Parque Lebret, a aposentada Sônia Maria Ramos, contou que em seis locais próximos de sua casa houve acúmulo de entulho. Moradores do Parque Guarus estão há vários meses convivendo com uma grande quantidade de entulhos espalhados em frente à Vila Olímpica e por toda a Avenida Campista. Segundo informações de moradores do bairro, diversas solicitações de limpeza já foram feitas.

A Superintendência de Comunicação da Prefeitura informou que a destinação adequada para os entulhos são os Pontos de Entrega Voluntária de Entulhos (PEVE), e que são os moradores que devem fazer a remoção e a entrega.

Os locais de recolhimento ficam no bairro Caju (na Av. XV de Novembro ao lado do cemitério); Parque Guarus (Av. Cristóvão Lisandro de Albernaz, em frente à praça); Zuza Mota (Av Zuza Mota, 335); Rui Barbosa (Av. Nossa Sra. do Carmo, próximo à Av. José Alves de Azevedo); e São Caetano (Av. Anita Peçanha, ao lado do Fit Vivai). Casos de despejos de entulhos em locais impróprios devem ser denunciados pelo telefone 98175-1882.

A Secretaria de Desenvolvimento Ambiental disse que vem reformulando os Peves, e que em breve novos postos serão inaugurados em bairros e distritos, como Guarus, Goitacazes, Parque Imperial, Jóquei (na Av. Presidente Kennedy), Penha, Julião Nogueira e Flamboyant. Porém, órgão público municipal não precisou datas para esses serviços começarem a funcionar.

Usina de entulhos sem funcionar

Estima-se que, em média, Campos produza cerca de 21 mil toneladas de entulho por mês. Em 2016, a Prefeitura de Campos em parceria com a Vital Engenharia inaugurou uma usina de beneficiamento de entulho, no Distrito Industrial da Codin, com capacidade de processar 80 toneladas de entulho por hora. Trata-se da primeira usina de beneficiamento e britagem de resíduos inertes do Norte Fluminense.

O material transformado em brita, areia e pedriscos seria para auxiliar em obras de asfaltamento de ruas e estradas.

De acordo com a Superintendência de Comunicação da Prefeitura de Campos, a Usina de Entulho que chegou a ser inaugurada pela gestão passada nunca funcionou. A expectativa é de que comece a operar em breve.

“Estamos somando esforços consideráveis de forma a inaugurá-la, atendendo todos os requisitos técnicos do Licenciamento Ambiental pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea-RJ) e dentro da legalidade para que, tão logo sejam resolvidas tais pendências e exigências, possamos dar início às atividades da chamada usina de entulho”, informou o secretário de Desenvolvimento Ambiental, Leonardo Barreto.

A assessoria de comunicação da Vital Engenharia foi procurada para explicar sobre a atual situação da Usina de Beneficiamento que está instalada na Codin, e sobre as condições do contrato de limpeza urbana com a Prefeitura de Campos, mas ninguém respondeu aos questionamentos. Sabe-se que em 2017, o valor do contrato da Vital com a Prefeitura de Campos foi reduzido à metade. Passou de R$8 milhões para R$4 milhões mensais. O prefeito Rafael Diniz alegou limitações financeiras e dificuldades para pagar o valor do antigo contrato firmado na gestão passada. Isto o obrigou à uma renegociação. Na época, a direção da Vital foi procurada, mas não se pronunciou sobre a redução dos valores contratuais.

Mutirão de limpeza em bairros e distritos

Desde o ano passado, a limpeza das ruas e praças nos bairros e distritos de Campos é motivo de queixa entre a população. Alguns mutirões organizados por moradores têm acontecido no município. Sem limpeza pública há meses, residentes no Parque Califórnia arregaçaram as mangas e fizeram por conta própria a limpeza de uma praça.

De acordo com o instrumentador Genibaldo Junior, morador do Califórnia há 16 anos, o serviço de limpeza de ruas ficou precário desde 2017. “O mato cresceu muito e isso atrapalha a gente para usar o espaço, principalmente para as crianças”, disse.

A Superintendência de Limpeza Pública informou que a coleta está regular no município e, no momento, estão sendo priorizadas as grandes avenidas. Posteriormente, outras ruas serão incluídas no cronograma de limpeza.

As caçambas, em sua grande maioria, não são sinalizadas em Campos. (Foto: Silvana Rust)

Caçambas

Um outro problema sério em Campos relativo a coleta de resíduos da construção civil se refere as caçambas espalhadas pelos quatro cantos da cidade, principalmente nas áreas mais centrais. Essas caçambas de ferro bruto, ficam como em quase todas as cidades do país estacionadas nas ruas como se veículos fossem.

O problema que é grave se refere a sinalização dessas caçambas. São raras as que estão no padrão de segurança. Existem casos de veículos que colidiram com essas caçambas exatamente pela falta de sinalização.

A sinalização que se percebem em Campos são tímidas faixas amarelas quase insignificantes em sua ação de refletir a luz dos faróis dos veículos. Algumas chegam a não ter nenhuma identificação, nem mesmo da procedência, ou seja, dos responsáveis. Elas são importantes para a coleta de demolições, mas torna-se necessário seguir padrões.

Na cidade do Rio de Janeiro toda a caçamba tem que se tornar perceptível em qualquer horário, principalmente à noite. Algumas, principalmente na Zona Sul utilizam iluminação de led, muitas vezes com pisca-pisca. Fato é que elas estão estacionadas nos mesmos lugares dos veículos. A diferença é que o veículo tem placas e lanternas refletivas e o risco de acidentes são infinitamente menores.

Lixo eletrônico

Em tempo de fácil acesso à tecnologia, difícil é encontrar quem não tenha eletrônicos em casa. Computadores e suas peças (teclado, mouse, caixas de som); smartphones; tablets; além de brinquedos, pilhas, baterias e cabos de energia são alguns dos itens comumente utilizados pela população. Mas como rege à lógica do mercado, com a ampla oferta de equipamentos e redução da durabilidade — a chamada “obsolescência programada” —, o resultado é um aumento considerável de produção de “lixo tecnológico”. Pensando nisso, o município de Campos já possui, desde 2010, locais adequados para o descarte desses materiais, conforme institui a Lei nº 12.305/10, sobre Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Os postos de coleta são: a sede da Superintendência de Limpeza Pública, localizada na Av. José Alves de Azevedo, 102, Centro; e no Centro de Educação Ambiental, situado na Avenida José Carlos Pereira Pinto, 306, no Calabouço, em Guarus. Esses locais funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Através de parcerias, outros pontos também disponibilizam de espaço para depósito deste tipo de resíduo em Campos, como o Sicoob da Rua Doutor Siqueira e o Shopping Boulevard. Os equipamentos recolhidos nesses postos passam por uma triagem, para a separação dos metais pesados dos demais componentes (como plástico e borracha), e, em seguida, esses últimos são encaminhados à reciclagem.

É muito lixo!

Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) prevê que o planeta terra tenha 52,2 milhões de toneladas métricas desses materiais até 2021. Esse número elevado representa uma ameaça ao meio ambiente e à saúde humana e preocupa os especialistas.

E para piorar, em 2016, quando os últimos dados foram contabilizados, apenas 20%, de todo o lixo eletrônico foram reciclados.

Seja por falta de informação ou de consciência ambiental, muitos ainda jogam esses eletrônicos no lixo convencional, mas essa prática é perigosa. Isso porque os smartphones, os CPUs, as pilhas e as bateriais, por exemplo, são materiais altamente tóxicos e contêm metais pesados, como mercúrio, zinco, chumbo e manganês. Se descartados na natureza, podem contaminar o solo e também são altamente nocivos aos seres humanos e animais. Por isso, a participação da população é essencial, pois além de colaborar com o meio ambiente urbano de modo geral, ainda contribui com as cooperativas de reciclagem, gerando empregos.