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Editorial: quando a verdade se impõe

Pacientes com câncer eram colocados como peças de um jogo em troca de um benefício alcançado

Saúde
Por Redação
25 de março de 2018 - 0h01

Foto (Reprodução)

Desde sua fundação, o Jornal Terceira Via carrega em seu DNA a marca de querer ser um veículo de imprensa de credibilidade e acessível à população. E por mais de seis anos a linha editorial que baseia e norteia os trabalhos de nossas equipes de reportagens tem sido a busca pela democratização da verdade dos fatos, mesmo entendendo todos os desafios inerentes a essa missão e visão. Num mundo de múltiplas possibilidades de acessos à informações, o que faz e sempre fará a diferença não está apenas a qualidade dos nossos produtos, mas fundamentalmente na coragem de expor nossa visão em defesa dos interesses coletivos e sociais de nossa gente.

Nos últimos três domingos, o Jornal Terceira Via cumpriu na integralidade esse ideal ao denunciar um grande esquema na Saúde no município de Campos, com danos muitos deles irreversíveis aos pacientes vítimas de câncer, envolvendo gestores da Secretaria Municipal de Saúde, agentes do Serviço Estadual de Regulação e médicos-empresários que assumiram diversos setores do Hospital Escola Álvaro Alvim.

Os fatos, que caso não sejam criminosos são no mínimo imorais, revelaram que pacientes vitimados pelo câncer eram tratados como peças de um jogo de interesses, onde o dinheiro era o objetivo final e não a vida das pessoas como o propósito a ser alcançado. Por nítida omissão, no mínimo, de setores da Secretaria de Saúde de Campos e do serviço estadual responsável pela regulação de todas as internações de pacientes nas Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (UNACONs) devidamente cadastradas pelo SUS no município, doentes que poderiam ser atendidos em um dia levavam até 60 dias para ter acesso a um primeiro atendimento. E tudo isso só para favorecer o Hospital Álvaro Alvim, que de público não tem nada e de filantrópico pouca coisa.

Pessoas então foram submetidas a toda sorte de maus atendimentos e demora na busca pela cura do câncer, em razão de uma articulação antiética entre àqueles que deveriam preservar os interesses da população, mas que nos gabinetes longes dos holofotes estimulavam o inchaço do Álvaro Alvim em detrimento do Hospital Dr. Beda e da Beneficência Portuguesa, ambos igualmente credenciados pelo SUS para atenderem a população gratuitamente. Sem justificativa, lógica nem defesa para práticas nesse sentido, a verdade, então, tinha que ser exposta.

Um exemplo gritante e inquestionável dessa verdade está na história da Ana Cláudia Pereira Nunes, de 45 anos e mãe de quatro filhos, que por sido jogada por meses na longa fila de espera no Álvaro Alvim e por não ter dinheiro para pagar os R$700,00 que lhe cobraram para adiantar uma biópsia, viu seu câncer de mama avançar para seu pulmão, diminuindo enormemente sua chance de cura. Se essa mesma paciente tivesse tido dentro dos órgãos responsáveis pelo controle e avaliação dos casos de câncer no município, a informação que poderia procurar o Hospital Dr. Beda ou a Beneficência para ter acesso ao tratamento pelo SUS, ela teria o primeiro atendimento em um dia e hoje muito provavelmente não estaria com sua vida comprometida. Crueldade? Sim, talvez. Deslealdade? Com certeza.

Nas três matérias especiais feitas pelo Jornal Terceira Via o que se viu então foi a exposição de uma verdade indigesta. E diante dos fatos narrados e dos depoimentos de diversos pacientes transcritos nas páginas do jornal, não havia outra saída por parte dos responsáveis senão a correção dos procedimentos para esses casos. E em reunião ocorrida na sede da Secretaria de Saúde no último dia 9, foram então estabelecidos novos e corretos fluxos para esses doentes, que agora passarão a ter todas as informações sobre prazos e qualidade de cada UNACON instaladas no município, permitindo que esses pacientes escolham e tenham acessos mais rápidos para buscarem a cura para uma doença que mata.

Ou seja, a verdade se impôs. Prova disso é o silêncio e a incapacidade por parte dos citados nas matérias de questionarem os pontos destacados nas reportagens. Não houve, portanto, uma vitória do Jornal, mas da verdade e de toda população.

Por fim, há de se destacar que O Jornal Terceira Via, diferente do que podem pensar alguns, não defendia naquele momento os interesses do grupo que faz parte, mas de toda a população que estava alijada de informações que poderiam significar a vida ou a morte. E esse compromisso com nossa missão e visão de jornalismo sério é que nos manterá atentos em todas as áreas onde a verdade possa estar sendo castigada. Fica então mais uma vez registrado, o Terceira Via tem um ideal que é a busca e divulgação da verdade e, nesse sentido, iremos buscá-la e publicá-la doa a quem doer.