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A saída no sinal fechado

Com o aumento do desemprego muitos campistas conseguem ganhar o pão todos os dias nas esquinas de ruas e avenidas

Campos
Por Redação
26 de janeiro de 2018 - 15h40
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Esse tipo de venda tem se tornado alternativa contra o desemprego (Foto: Silvana Rust)

O Brasil tem hoje mais de 13 milhões de pessoas que perderam o emprego desde 2016 e uma economia em recessão. Desempregados, trabalhadores garantem renda como vendedores ambulantes, solução que se tornou comum em tempos de crise; maior concorrência dificulta recolocação no mercado de trabalho, mesmo para quem tem experiência. Pelos principais cruzamentos de Campos é possível observar o crescimento do comércio informal. Em alguns pontos, motoristas e pedestres podem comprar água, bala e pano de limpeza, tudo no mesmo espaço.

Acordar cedo, tomar café com pão e caminhar da Tapera – bairro onde moram – até o atual local de trabalho: cruzamento das Ruas Ouvidor com Sete de Setembro, no Centro da cidade. Esta tem sido a rotina dos irmãos Franciani e Wenderson Oliveira, de 30 e 33 anos, respectivamente. Desde que perderam o emprego, há dois anos, a dupla tenta sustentar a casa onde moram com a mãe, com a venda de balas e panos de limpeza.

Franciani trabalhou durante três anos como auxiliar de caixa em uma rede de supermercados. Wenderson foi ajudante de muck e sinaleiro na Construtora Odebrecht durante três anos também. O desemprego bateu à porta dos irmãos ao mesmo tempo e “virou de pernas pro ar” a vida da família. “Desde as demissões, passamos a distribuir currículos pela cidade toda. Muitas vezes, chegamos à fase dos testes para admissão, mas nunca fomos convocados. Sem alternativa, usamos a reserva financeira para comprar uma caixa de balas e panos de limpeza.

Assim, há quase um ano estamos tentando manter as contas em dia e nos sustentar”, afirmam os irmãos Oliveira. Franciani concluiu o 2º grau e tem certificado dos cursos de Almoxarifado e Auxiliar de Administração. “Mesmo com qualificação está difícil arrumar emprego de carteira assinada”, afirma. A bala é R$ 1. Já os panos de limpeza, cinco unidades por R$ 10. E no mesmo cruzamento, os irmãos não estão sozinhos na venda informal.

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Irmãs trabalham juntas nas ruas de Campos (Foto: Silvana Rust)

As amigas Alcinéia Ramos e Heloisa Cristina Santos, de 60 e 47 anos, respectivamente, admitem que foram “obrigadas” a vender bala no sinal, pois não conseguiram mais emprego. “Temos experiência como babá, cuidadora de idosos, faxineira, cozinheira; mas quando perguntam nossa idade, a contratação não acontece. Preferem as pessoas mais novas, infelizmente. Com as contas chegando e sem um tostão, decidimos vender bala no sinal”.

Questionadas se o resultado das vendas é suficiente para o sustento da família de cinco pessoas – além de Alcinéia e Heloisa, moram na mesma casa, o marido e uma irmã deficiente de Alcinéia, além da filha de 14 anos; as amigas são enfáticas: “Não! Para nossa sorte, muitas pessoas que passam por aqui trazem sacolão (cesta de alimentos não perecíveis). Mas, temos contas de água e luz em atraso. Além, claro, do aluguel. Tínhamos o benefício da Prefeitura de Campos (Cheque Cidadão), que foi suspenso no ano passado e ainda não sabemos quando vai voltar. Muita gente traz sacolas de roupas e calçados também. O brasileiro ainda é muito solidário à dor do outro”, admite Heloisa.

Alcinéia lembrou que há dias que leva para casa somente R$ 5. “Ontem (quarta-feira, 17), comprei meia dúzia de ovos”. Cada pacote de bala é vendido a R$ 1. Em outro cruzamento de grande movimento da cidade, Avenida 28 de Março com José Alves de Azevedo (beira-valão), Jussara Soares oferece petiscos aos motoristas que param diante do semáforo.

Ela nunca havia trabalhado formalmente, mas após a demissão do marido se viu obrigada a procurar um jeito de sustentar a família. “Ele era gari há anos. Mas, no ano passado, a empresa que presta serviços de limpeza para a Prefeitura de Campos, demitiu mais de 500 funcionários. Meu marido, com 53 anos, encontrou muitas portas fechadas e entrou em depressão com essa realidade cruel. Foi quando decidi arregaçar as mangas e comecei a vender biscoitos salgados nos cruzamentos da cidade. Depois de alguns meses, ele passou a me ajudar e hoje conseguimos pagar o aluguel e dar comida aos nossos sete netos”, destaca Jussara explicando que o marido, Israel, não tem ponto de venda fixo.”Ele procura onde o movimento está melhor, depende do dia”.

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O emprego formal tem se tornado cada vez mais difícil  (Foto: JTV)

Empresas mais exigentes

As vagas de emprego estão escassas. Segundo Marlene Alves, analista de recrutamento e seleção em uma agência de empregos de Campos, o número de vagas começou a diminuir ainda no final de 2015. “Muitos clientes tinham projetos que aumentariam o quadro de funcionários, mas os projetos foram adiados e as vagas canceladas por retenção de custos”, conta.

Mesmo assim, os recrutadores enfrentam dificuldades para preencher as poucas vagas que aparecem, porque as empresas se tornaram mais exigentes. “Temos um número de vagas muito menor, porque muitas empresas fecharam, e as que não fecharam reduziram, e muito, o quadro. Em contrapartida, temos empresas com vagas que demoram mais para serem preenchidas porque têm mais oferta de pessoal qualificado, por isso elas (empresas) exigem mais”, afirma Marlene.

Com pouca oferta de vagas e muita procura, muitos desempregados reduzem suas pretensões salariais e aceitam condições inferiores às de seu emprego anterior. “Quanto mais tempo a pessoa fica desempregada, ela se vê em uma situação mais complicada e, consequentemente, diminui os requisitos, aceitando salário menor ou trabalhar mais longe de casa, por exemplo”, revela a analista.

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Vendedores aproveitam o sinal fechado para atrair clientela (Foto: Silvana Rust)

2017 x 2018: dificuldades x esperanças

O ano que passou talvez seja considerado por muitos como um dos piores dos últimos dez anos no quesito financeiro. A menos de dez dias para o fim do primeiro mês de um novo ano o que esperar? Será possível recuperar-se de um ano cheio de dificuldades e desempregos? Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apenas no mês de novembro de 2017, o município de Campos registrou 1.490 contratações e 1.661 demissões.

Essa estatística é ainda maior, quando se trata de todo o ano, onde o número de admissões foi de 22.239, e o de demissões, 24.733. Segundo o economista Alexandre Delvaux, a economia brasileira deu sinais de recuperação em 2017, com crescimento do PIB em torno de 1,1%, mas isto não se refletiu em Campos. “De acordo com dados do Ministério do Trabalho, no ano passado, o número de demissões em Campos foi superior ao de desligamentos, com destaque negativo para o comércio varejista e a indústria do açúcar, como os que mais desligaram funcionários. Esse cenário vem se agravando desde 2014”.

Ainda de acordo Alexandre, a melhora na economia municipal pode acontecer a partir desse ano, ainda que modesta. “Pelo menos três fatores indicam que os resultados em 2018 podem ser melhores e anunciam uma recuperação do mercado de trabalho em Campos. Os preços do barril de petróleo apresentam tendência de crescimento, a economia brasileira pode acelerar e, principalmente, os investimentos no Porto do Açu, entre eles, a construção da termoelétrica. É possível, ainda, que ocorra uma pequena melhora nas finanças do governo estadual, com impactos sobre os investimentos públicos na região. Temos indicadores bastante positivos que trazem esperança e otimismo. O que não é bom é que a dinâmica do mercado de trabalho local continua muito dependente de impulsos externos e de recursos do setor público.”, finalizou o economista.

*Matéria com participação de Laila Nunes