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Sem cuidados, motos oferecem mobilidade que pode levar à morte

Dados revelam que mais de 2,3 mil pessoas sofreram acidente de moto em 2016 em Campos; até abril de 2017 foram 710

Campos
Por Redação
17 de dezembro de 2017 - 0h01

foto-capaPor LAILA NUNES e PATRÍCIA BARRETO

As motocicletas continuam sendo o grande problema da violência no trânsito brasileiro. Não tem jeito. O tempo passa e essa realidade não muda. Apesar de responder por 27% da frota nacional de veículos, os acidentes com motos concentraram 76% das indenizações pagas às vítimas no ano passado. Esse tipo de veículo é o líder no ranking de acidentes e o que mais mutila. E, também, tem uma grande influência nas mortes: os motociclistas representam 40% dos óbitos no trânsito no país. Os dados mais recentes apontam que, somente em 2015, foram 12.126 mil vítimas fatais que conduziam motocicletas no Brasil – 33 registros por hora, conforme o Ministério da Saúde, revelando ainda que quatro em cada dez mortos em acidentes de trânsito naquele ano pilotavam uma moto. O Sudeste é a região que concentra a metade da frota do país, e também, a que concentra a maior incidência dos acidentes dessa natureza (35%).

Entre as vítimas de acidentes de moto, em 2016, está o campista Benigno da Silva Ribeiro Pinto, de 26 anos. Ele foi vítima de um grave acidente na noite do dia 10 de fevereiro do ano passado, na estrada que liga Campos a São João da Barra, e teve a perna esquerda amputada.

“Estava voltando do trabalho, passei pelo radar na velocidade permitida, quatro carros trafegavam na direção contrária à minha quando percebi um farol muito alto vindo na minha direção. Não deu tempo de desviar e o carro me pegou de frente. Senti um forte impacto e, já no chão, vi que estava sem a perna esquerda”.

acidente-de-moto-benigno-8Benigno trabalhava em uma rede de supermercados de Campos, estava de casamento marcado e ficou internado em estado grave por 43 dias.

Ele admite que, em um primeiro momento, sentiu muita raiva do taxista. Mas, depois entendeu que toda aquela situação tinha um propósito. Hoje, ele faz parte do time de futebol de amputados de Rio das Ostras. E não há uma atividade que Benigno deixe de fazer: ele frequenta a academia, joga futevôlei e ainda ajudou na obra da casa que foi construída para morar após o casamento realizado em julho desse ano.

“O Sistema Único de Saúde (SUS) alegou não ter condições de oferecer uma prótese devido à crise econômica. Junto com amigos, organizei um torneio de Futsal beneficente e consegui comprar minha prótese e entrei na igreja andando sem muletas”, orgulha-se.

Benigno sempre teve motocicleta e, no currículo, outro acidente. “Trafegando pela estrada de Cambaíba, atropelei um animal, caí e quebrei a clavícula. Mas, nada tão grave como da última vez”, lamenta.

Dados do DPVAT

A frota de motocicletas no Brasil chegou a 24 milhões de unidades em 2016 (27% dos 93,8 milhões de veículos em circulação pelas ruas e estradas brasileiras). Quando consideramos o período entre 2000 e 2016, houve um crescimento de 1.281% no volume de motos, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Os números do Seguro por Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) também revelam que, do total de mortos indenizados, mais da metade (53%) tinha entre 18 e 34 anos, ou seja, eram economicamente ativos.

De acordo com o Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran), em dezembro do ano passado, a cidade de Campos tinha 134.541 carros, 38.312 motos, 7.427 caminhões e 1.678 ônibus.

Em uma pesquisa mais recente, em junho de 2017, o número de carros passou para 135.386 e motos 38.676. Já o número de caminhões e ônibus teve uma pequena queda, 7.414 e 1.673, respectivamente.

Esses números não retratam a realidade, uma vez que, muitos motoristas saem de Campos e seguem até o Estado do Espírito Santo, onde o emplacamento e o Imposto de propriedade de veículos Automotores (IPVA) são mais baratos.

Aumento no número de indenizações

As indenizações envolvendo acidentes fatais no trânsito registraram aumento de 27% no primeiro semestre deste ano, em relação aos primeiros seis meses de 2016. No total, foram 19.367 indenizações pagas para herdeiros de vítimas fatais.

Já o número total de indenizações por acidentes de trânsito caiu. Foram pagos 192.187 indenizações de janeiro a junho de 2017, incluindo casos de morte, invalidez permanente e despesas médico-hospitalares. O número é 9% menor que no primeiro semestre do ano passado, quando foram registradas 210.334 indenizações.

A informação é da Seguradora Líder-DPVAT, responsável pela operação do seguro DPVAT.

Vítimas

Como nos anos anteriores, a maior incidência de indenizações pagas, no primeiro semestre de 2017, foi para vítimas do sexo masculino – um total de 75%. Nesse período, a faixa etária mais atingida foi 18 a 34 anos, um total de 94.167 mil indenizações. No período analisado, os motoristas foram as principais vítimas.

Em indenizações fatais, eles representaram 56% das indenizações pagas e 57% em acidentes com sequelas permanentes. Nesse cenário, formado por 82.125 motoristas, 73.024 eram motociclistas, um total de 89%.

Os pedestres ficaram em segundo lugar nas indenizações por morte no período (26%), assim como nos acidentes com invalidez permanente (30%) e despesas médico-hospitalares (17%) .

Melhor preparação do motociclista

É consenso entre os que trafegam no trânsito que a melhor forma de minimizar as mutilações e a matança que as motos têm provocado é a qualificação do motociclista exigindo cada vez mais na preparação para assumir a direção.

Enquanto o Brasil parou no tempo e ainda realiza a prova prática para tirar habilitação dos motociclistas em circuitos fechados, na Espanha, essa etapa é preliminar e depende de aprovação para seguir ao passo seguinte, que é percorrer vias públicas sendo monitorado por um agente de trânsito.