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Vencendo dia após dia

Com 99% de chances de morrer, atleta campista supera doença que ainda não tem agente causador identificado

Saúde
Por Redação
11 de dezembro de 2017 - 0h01

whatsapp-image-2017-12-06-at-14-02-58Superação e milagre são as palavras mais usadas pelo atleta Victor César dos Santos Rocha, de 36 anos, nas últimas semanas. Acostumado a lutar por medalhas, pódios e troféus, o também personal trainer há mais de 15 anos precisou enfrentar uma grande batalha pela vida, que segue a cada dia com mais obstáculos a serem superados. Há quatro meses, ele começou a ter febre e sentir dores na cabeça, mas não imaginava que teria que vencer algo que vai além de uma competição: uma doença, até o momento sem um agente motivador, com apenas 1% de chance de sobrevivência.

Pouco tempo após retornar do Campeonato Mundial de Aquathlon em Penticton, no Canadá, onde participou com a seleção brasileira, o triatleta começou a perceber os sintomas, que incluíam ainda uma leve fraqueza muscular. Victor logo procurou um atendimento médico.

“Na época, eu tomei os medicamentos e tratava como se fosse uma dor de cabeça comum. Fiz exames de sangue e estava tudo normal. Só que eu comecei a ir diariamente para o hospital, pois algumas alterações começaram a surgir nos exames na parte de fígado, de baço e das plaquetas. Então, começaram a achar que pudesse ser alguma coisa relacionada à dengue ou a chikungunya, pelas características que apareceram no resultado do exame de sangue. Isso foi piorando. Minhas taxas começaram aumentar ainda mais e o meu corpo caiu de vez. Fui internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) e os médicos começaram a investigar toda a situação. O que eu tinha foi diagnosticado como encefalite de tronco cerebral, mas ainda não se tem certeza. É um caso que ainda está sendo investigado. Graças a Deus, estou tendo respostas, a cada dia eu melhoro mais, mas ainda não tem uma conclusão para o meu diagnóstico”, conta.

vitor-atleta-superacao-carlos-grevi-06-12-38O personal trainer explica que passou cerca de um mês no hospital. Os médicos fizeram um bloqueio a partir de medicamentos, o organismo deu uma resposta e ele teve alta, foi para casa e começou a fazer fisioterapia. Porém, três dias depois, ao acordar Victor percebeu que o seu rosto estava paralisado e retornou para a unidade hospitalar.

“Eu voltei pior do que estava antes. O meu corpo inteiro ficou paralisado. Teve um momento no CTI que eu queria levantar o dedo e não conseguia. É uma coisa simples de se fazer, mas não mexia. Eu não conseguia ficar sentado, porque o meu corpo não estabilizava, ficava todo mole. É muito mais difícil do que se pode imaginar, principalmente, para uma pessoa que fazia tudo e se pega não conseguindo fazer mais. No segundo dia internado, eu consegui coçar o nariz. Muitas pessoas podem achar fácil fazer esse movimento, mas pra mim foi uma alegria muito grande. A gente começa a dar valor as coisas simples. Do quarto para o quinto dia foi quando os médicos disseram que todas as medicações haviam sido dadas e que no dia seguinte eu poderia não acordar, pois em 99% desses casos o paciente acaba morrendo, mas eu acordei. Ele não usaram a palavra a milagre, mas eu uso porque o meu corpo precisava responder”, lembra.

vitor-atleta-superacao-carlos-grevi-06-12-49Apoio médico

Depois de mais um mês recebendo tratamento no Hospital Dr. Beda, Victor segue se recuperando a cada dia, fazendo hidroterapia, sessões com um fonoaudiólogo, fisioterapia e pilates para recuperar os movimentos. O personal trainer terá que tomar alguns medicamentos por até três anos.

“Os médicos do Hospital Dr. Beda foram fantásticos comigo. Os enfermeiros e os médicos do CTI tinham obrigação de trabalhar, mas eles tiveram um carinho muito grande por mim, como se fossem meus irmãos. O pessoal da equipe de enfermagem e de fisioterapia me abraçaram de uma forma que eles falam comigo até hoje, me perguntam como eu estou praticamente todos os dias. Temos inclusive um grupo no Whatsapp chamado ‘Amigos do Victor’. A amizade que eu fiz foi incrível”, revela.

Um dos médicos que acompanhou todo o processo do Victor foi o Dr. Sandiano Brum Mello, especialista em clínica médica e medicina intensiva. Segundo ele, o estado de saúde do atleta começou a se agravar e houve a internação no CTI da unidade 2 do hospital Dr. Beda.

“O Victor estava com dificuldade para andar, falar e fazer todas as atividades básicas que um ser humano faz. A imunidade dele ficou comprometida e foi uma situação completamente atípica, mas que felizmente houve uma resposta surpreendente dele. Toda equipe se empenhou bastante nesse caso e deu certo. O Victor se tornou amigo de todos nós e está firme e forte na recuperação”, relata o médico.

Apesar do fim da batalha no hospital, Victor ainda não sabe qual foi o agente causador de todo o problema. Na tentativa de descobrir, ele faz visitas a um médico da Universidade Estadual do Rio de Janeiro p a r a coletar dados e quem sabe ajudar outras pessoas. “O meu caso acabou virando um fato interessante para estudo. Como não existem dados e eu sou um dos poucos sobreviventes, a minha história pode ajudar. Se não há um agente causador, a ciência não pode me responder até que ponto eu vou melhorar ou se eu vou conseguir voltar a fazer as atividades que eu fazia. Estamos colhendo dados para que se alguém futuramente vier a ter o que eu tive, a gente possa ter um tratamento” ressalta.

vitor-atleta-superacao-carlos-grevi-06-12-14Coincidências que ajudaram na recuperação

O caso de Victor mobilizou toda a cidade de Campos dos Goytacazes. O triatleta sabia que era uma pessoa querida, mas não imaginava o tamanho do sentimento que as pessoas tinham por ele. E entre todos que o cercavam, a namorada Carla Nicos, demonstrou que estaria ao lado dele em todas as circunstâncias. Inclusive, ela é quem acompanha o Victor nas sessões de hidroterapia.

“O nosso relacionamento era recente quando tudo começou. Hoje, são 7 meses de namoro e nós temos muitas coisas em comum: a idade, o mês de aniversário, o signo e morávamos no mesmo condomínio, mas não sabíamos. Quando ele estava internado, eu ouvi de muitas pessoas que era melhor a gente se separar, para que eu não precisasse passar por esse tipo de situação. Realmente foi angustiante, mas eu fiquei ao lado dele em todos os momentos. Eu estava em todas as visitas e em nenhum momento a morte passou pela minha cabeça. Tinha certeza de que o Victor iria se recuperar e isso nós percebemos quando ele sentia o meu perfume e os seus batimentos cardíacos aumentavam. Eu digo que a dedicação da minha parte foi feita com muito carinho”, comenta.

Atleta já pensa em novos rumos para o seu futuro

“Hoje eu estou na quinta sessão de hidroterapia. Na primeira, eu não conseguia ficar parado na água, agora já me locomovo, corro na água e faço os movimentos. Minha evolução é diária, tenho uma vida independente, com certas dificuldades, algumas partes motoras que ainda estão comprometidas, mas eu consigo fazer tudo. Aprendi que você tem que vencer esse dia e depois passar no amanhã. As lutas foram dentro e fora do hospital. Às vezes, eu acordo desanimado, mas não peço arrego. Vou começar a aprender a nadar de novo. Eu preciso fazer a minha parte para poder ficar bom. Se eu não fizer, vou ficar com aquela dúvida na cabeça de que poderia ter feito mais. De mim não vai faltar nada”, completa.