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Neurocirurgiões do HFM publicam carta de repúdio à situação da Saúde

De acordo com documento, atendimento de neurocirurgia deve ser interrompido nos fins de semana

Campos
Por Redação
4 de dezembro de 2017 - 11h48
(Foto: Silvana Rust)

(Foto: Silvana Rust)

A equipe de neurocirurgiões do Hospital Ferreira Machado (HFM) publicou, neste sábado (2), uma carta de repúdio ao que qualificam como “condições aviltantes” a que os profissionais da saúde estariam “submetidos nos últimos anos e com piora substancial nos últimos meses”. O documento comunica, ainda, a suspensão, desde o dia 1º de dezembro, do atendimento de neurocirurgia durante os fins de semana na unidade de saúde, que era prestado por médicos RPA e contratados. No entanto, o atendimento foi mantido pelos profissionais que se organizaram de maneira independente e sem garantia de pagamento para não prejudicar os pacientes internados na unidade.

Assinada pelos médicos Fabrício Zacarias Paes, André Felipe Fonseca Duarte Pinto, Arthur Borges Martins de Souza, Marcelo Barros Rodrigues, Leandro Alcy Sales Ferreira, Eduardo Piassi Lopes, Raulino Jose Rebelo Pereira, Hercules Ribeiro Simonini e Pascoal Jacinto da Silva Filho, a carta pede “soluções urgentes” e cumprimento “honesto” dos acordos estabelecidos entre a categoria e o poder público municipal.

Um dos neurocirurgiões do HFM que assinou a carta, Dr. Piassi, declarou ao Jornal Terceira Via que, até o momento, não houve resposta por parte da administração da unidade ou da Fundação Municipal de Saúde (FMS) e da Secretaria de Saúde. Ele disse que, como foi dito na carta, embora tenha sido decidido entre os médicos que não haveria atendimento nos finais de semana desde o dia 1º de dezembro, neste último os profissionais se revezaram para cobrir a demanda no setor de Neurocirurgia, mas, para isso, precisaram trabalhar mais de 24h, o que não seria permitido, segundo o regimento.

Nesta segunda-feira (4), apenas um neurocirurgião está em plantão no HFM, quando deveriam estar ao menos dois. “Também por conta própria, estamos nos organizando para que esse médico possa tomar um banho e almoçar; mas o profissional que fará a cobertura não tem garantias de que receberá pelo serviço prestado. Assim como não tivemos garantias ao trabalhar durante o final de semana”, afirmou o médico.

Ele disse ainda que a carta de repúdio foi enviada ao Conselho Regional de Medicina (CRM) de Campos, que, com base nas declarações dos médicos, elaborou outro documento que foi encaminhado ao CRM do Rio de Janeiro, por sua vez responsável por tornar público o problema. A carta também foi anexada em denúncias registradas no Ministério Público Estadual (MPE), Ministério Público Federal (MPF) e na Delegacia Civil.

O médico afirmou também que, como não houve resposta por parte dos responsáveis, ainda não há previsão sobre o que acontecerá no próximo final de semana. Por isso, os profissionais de Neurocirurgia vão se reunir com o advogado no MPE nesta segunda-feira (4), às 14h, para buscar um direcionamento jurídico. “Até o momento fomos guiados pela ética e pelo compromisso com os nossos pacientes, mas tudo tem limite. Não podemos nos desgastar física e mentalmente, trabalhando mais de 24 horas por dia, até porque, diante desse contexto, até mesmo os pacientes sairão prejudicados. Precisamos ser ouvidos e precisamos de uma resposta honesta”, concluiu.

Em nota, a direção do HFM informou que não houve interrupção do atendimento em neurocirurgia na unidade e que a população permanece assistida. “Na última semana, a direção convocou os médicos plantonistas para reunião a fim de que fossem definidas, em conjunto, as escalas de plantão nos finais de semana, com as devidas complementações salariais. O HFM explicou que os profissionais que trabalham com neurocirurgia são concursados e que estes se encontram com os salários rigorosamente em dia. Casos pontuais com relação a pagamento de substituições, já foram resolvidos. Em relação aos insumos, os procedimentos necessários para a aquisição de novos materiais encontram-se em andamento. A unidade ressalta que eventuais faltas estão sendo supridas. O HFM continua aberto ao diálogo com os profissionais, assim como tem acontecido desde o início do ano”, informou a direção.

CARTA

As reivindicações são “pagamento digno e diferenciado para o fim de semana” e “equipagem urgente do centro cirúrgico do Hospital Ferreira Machado para a realização de cirurgias neurológicas emergenciais”.

Os membros da equipe da neurocirurgia se dizem em “luto” e afirmam que o atimento a emergências neurológicas/neurocirúrgicas no município vem sendo “desmantelado”.

“Somos referência no atendimento de Trauma Cranioencefálico (TCE), Trauma Raquimedular (TRM), infecções do SNC e AVC Hemorrágico. Serviço esse único e fundamental a nossa população. Ainda trabalhamos com progressivas piora nas condições de trabalho, com falta de material cirúrgico (craniótomo, material hemostático), medicamentos, entre outros”, escrevem.

De acordo com a carta, o superintendente do HFM, Pedro Ernesto Simão, e a secretária municipal de Saúde, Fabiana Catalani, possuem, “desde o início do ano a listagem dos materiais mínimos necessários para que este cenário de descaso seja modificado”.