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Quando o direito de ir e vir esbarra na falta de acessibilidade

Os obstáculos que deficientes precisam superar em uma cidade de pouca inclusão e acessibilidade

Campos
Por Redação
21 de agosto de 2017 - 0h01

nolvadex online apae-silvana-rust-54Aproximadamente 24% da população brasileira é composta por pessoas que possuem algum tipo de deficiência — seja auditiva, visual, física e intelectual. Isso significa que o Brasil possuiria cerca de 45,6 milhões de Pessoas com Deficiência (PCDs), de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, esse número não para de crescer. Isso porque qualquer indivíduo está sujeito às obras do acaso e, de um momento para o outro, pode ser o beneficiário das políticas públicas de acessibilidade de que tanto falam e pouco executam em todo país. Acontece que esse risco iminente é, muitas vezes, desconsiderado e a consequência é o que se observa: o descaso. A própria sociedade civil não se dá conta de que pensar na coletividade é, também, pensar em si mesmo.

Com o intuito de dar visibilidade a essa questão, a Câmara dos Deputados instituiu, junto à Federação Nacional das Apaes (Fenapaes), a Semana Nacional das Pessoas com Deficiência Intelectual e Múltipla que, este ano, começa nesta segunda-feira (21). Aproveitando a data, a equipe de reportagem do Jornal Terceira Via se propôs a questionar algumas dessas pessoas com deficiência quanto aos desafios enfrentados diariamente. Eles foram unânimes em afirmar que, se comparado a um passado recente, a realidade de hoje é menos difícil, mas, ainda assim, estaria longe do que consideram o ideal.

Em Campos existem algumas instituições voltadas para o atendimento das pessoas com deficiência como, por exemplo, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), a Associação de Proteção e Orientação aos Excepcionais (Apoe), a Associação de Pais de Pessoas Especiais (Apape), o Educandário para Cegos São José Operário, entre outras. Mas o trabalho executado por essas entidades não é o suficiente para garantir o cumprimento das leis voltadas para a melhoria da qualidade de vida dessa parcela significativa da população.

apae-silvana-rust-85Entre os principais desafios enfrentados por esses indivíduos no município estão: o desrespeito à prioridade nos atendimentos sociais e comerciais; a carência de oportunidade de emprego, mesmo com a existência da lei de cotas para deficientes nas empresas; a falta de acessibilidade nas ruas e nos espaços públicos; e, ainda, o preconceito.

Desafios
Segundo a presidente da Associação Norte Fluminense dos Deficientes Físicos (Anfludef), Márcia Valéria Mothé do Nascimento, mesmo portando a “carteirinha” que dá direito ao acesso prioritário nas filas de unidades bancárias e postos de saúde, ainda há quem questione a execução da lei. O mesmo vale para as vagas de emprego. Embora as empresas tenham o interesse de contratar pessoas com deficiência para evitar o pagamento de multa, as oportunidades ainda são escassas diante da demanda.

“A Anfludef contempla apenas os deficientes físicos, mas, ainda assim, recebo muitas reclamações de desrespeito em espaços públicos; muitos estão desempregados; outros sequer conseguem marcar consultas médicas pelo Sistema Único de Saúde ou conseguir remédios nas farmácias populares… Essas pessoas se viram como podem. Aqueles que não recebem o Benefício da Prestação Continuada do Governo Federal, vendem salgado, docinho, o que quer seja para conseguir alguma renda e, com ela, pagar uma consulta social, comprar um remédio, ajudar nas despesas da casa. Enfim, se para toda a sociedade a situação está difícil, para a pessoa com deficiência está ainda pior”, enumerou a presidente. A Anfludef oferece uma série de serviços às pessoas com deficiência de Campos e de outros municípios da região como, por exemplo, a carteirinha que dá direito à gratuidade ou meia-entrada em eventos sociais e no transporte público; à prioridade em filas de bancos e para atendimento médico; e também promove palestras de conscientização e serviço voltadas para esse público.

apoe-silvana-rust-317A presidente da associação acrescenta que, embora existam as leis, para que elas sejam cumpridas é necessário que a pessoa com deficiência atue como um fiscal. “Caso observe
alguma situação que não seja condizente com a lei, tem que denunciar. Acredito que, se não é possível solucionar essa questão por meio do bom senso, que seja pela justiça”, declarou.

Márcia teve poliomielite quando criança e a doença resultou no atrofiamento da sua perna esquerda e do seu braço direito. O mesmo aconteceu com o presidente do banco Sicoob Fluminense, Neilton Ribeiro da Silva, mas, ao contrário de Márcia que tem certa mobilidade, Neilton perdeu totalmente o movimento dos dois membros inferiores e, desde os dois anos, se locomove com o auxílio de uma cadeira de rodas. Ele contou à equipe de reportagem do Jornal Terceira Via que a situação narrada por Márcia é um problema cultural.

“Aquilo que parece ser simples, muitas vezes se torna complicado aos olhos do poder público e das empresas. Eles não compreendem que tornar um ambiente acessível para o deficiente é o mínimo a ser feito. Às vezes baixar um meio fio ou aumentar a porta de um banheiro, questões que poderiam ser resolvidas rapidamente e sem gastar muito dinheiro, acabam sendo postergadas, seja por falta de interesse ou, até mesmo, de conscientização”, disse. O empresário contou ainda que já deixou de se hospedar em um hotel porque, para ter acesso à recepção, era necessário passar por uma escada e, sair de Campos para outro município em um ônibus também é impossível para ele e para outros indivíduos na mesma situação.

armadilhas-no-terminal-de-desembarque-no-centro-silvana-rust-103Neilton destacou que possui uma cadeira especial que lhe dá independência, mas essa não é a realidade de grande parte desse contingente de pessoas com deficiência. “Eu tenho um carro adaptado, por exemplo, mas são poucos aqueles que dispõem de recursos para fazer essas adaptações. Até porque, se andar de ônibus é difícil, de táxi é impossível porque geralmente há um cilindro de gás que ocupa todo o porta-malas do veículo. Nem mesmo as igrejas, que deveria contemplar a todos, são adaptadas para os deficientes. Dado o número de pessoas com necessidades especiais, essas são pequenas situações que não demandam muito esforço para serem adequadas, mas, por uma razão cultural, nada é feito nesse sentido. Ao menos hoje esse tema tem sido discutido nas escolas, o que não acontecia no passado; por isso, acredito que o que está faltando na realidade é a fiscalização”, concluiu.

Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Múltipla e Intelectual
Entre os dias 21 e 28 de agosto comemora-se em todo o Brasil a semana de conscientização para mobilizar a sociedade e ressaltar a importância de debater os assuntos relacionados à vida das pessoas com deficiência. Em 2017, o tema é “Construindo uma história de igualdade e de oportunidade para todos” e A semana é promovida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).

Em Campos, a abertura da semana acontecerá na segunda-feira (21), na Câmara de Vereadores, a partir das 13h. Os dias seguintes, 22, 23, 24 e 25 de agosto, serão destinados a oficinas de capacitação para os professores da rede municipal, visando o aprimoramento da forma como lidar com as pessoas com deficiência dentro de sala de aula. No dia 26 acontecerá um grande evento de encerramento no Jardim São Benedito, das 10h às 17h, com diversas atividades e serviços oferecidos à população. Haverá também recreação infantil, prática de paraesporte e apresentações artísticas dos assistidos do Educandário de Cegos São José Operário, da Apape e da Apoe.

Serviços Públicos

Questionada quanto aos serviços oferecidos para as pessoas com deficiência em Campos, a Prefeitura de Campos respondeu que a secretaria municipal de Desenvolvimento Humano e Social tem parceria com as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) que, por sua vez, disponibilizam atendimentos especializados e práticas educativas. Já a Fundação Municipal de Esportes (FME) implantou o projeto Paraesporte em abril deste ano. Esse projeto já conta com 600 pessoas que praticam esportes como natação, futsal, tênis, vôlei, etc. Além disso, a Fundação também firmou parcerias com as instituições filantrópicas, oferecendo professores para ministrar aulas nesses espaços.

A prefeitura destacou ainda que o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte ainda desenvolve ações relacionadas à acessibilidade como, por exemplo, o credenciamento de estacionamento para as pessoas com deficiência e a elaboração de uma cartilha para orientar os empresários a respeito desse tema. Quanto à Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Smece), a prefeitura lembrou que algumas unidades de ensino possuem as chamadas “Salas de Recurso”, onde são realizados atendimentos educacionais especializados, por meio de estratégias de aprendizagem que favoreçam o desenvolvimento dos alunos com deficiência. Ainda de acordo com a prefeitura, a Smece mantém na rede municipal cuidadoras e mediadoras responsáveis por acompanhar e auxiliar na inclusão dessas crianças.

Por fim, a Fundação Municipal da Infância e Juventude (FMIJ) desenvolve alguns projetos como a Proteção Social Especial de Alta Complexidade, com acolhimentos institucionais; o ReciclaSons, que trabalha musicalidade e controle motor das crianças especiais; e a Proteção Social Básica (preventiva), que cria ferramentas de inclusão. cheap Lasix purchase dopoxetine