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Entrevista: um monsieur na planície

Escritor francês que já morou em Recife, Macapá e Belém veio visitar amiga e se apaixonou pela cidade de Campos dos Goytacazes

Geral
Por Blog dos Jornalistas
21 de agosto de 2017 - 0h01

Antabuse without prescription gilles-galant-6Autor de dois livros com um terceiro a caminho, Gilles Galant, tem um português bastante razoável e muita bagagem na mochila. Isso no sentido figurado, porque paira nele um ar de sofisticação com o chapéu aveludado e o cachimbo no canto esquerdo da boca.

Tem uma profunda paixão pelo Brasil, tema do seu primeiro livro, escrito em francês, que deve ser traduzido em breve para o português. Adora o aspecto humanista do mundo mas, com tristeza, constata que o mundo está mais desumanizado.

Intelectualizado aos extremos, ele discorre sobre qualquer tema. Sabe mais de Joaquim Nabuco do que a maioria dos brasileiros. É dono de uma cultura erudita a serviço dos aspectos populares, compreendendo e traduzindo-os.

Como veio parar no Brasil? lioresal online
Estive no Brasil pela primeira vez em 1986, como bolsista do governo francês em Pernambuco, mais precisamente no Recife, para fazer um doutorado sobre a concentração da terra no curso de um século, período da abolição da escravidão até a Nova República, exatamente em 1985.

Se apaixonou e voltou?
Sim. Tinha o Brasil na minha cabeça desde adolescência.

Por quê?
Quando tinha cinco anos sofri um acidente que me deixou com sequelas na perna e em um dos braços. Na França era difícil para uma pessoa com alguma deficiência se incluir naquela época. Eu li um livro, em uma biblioteca do Liceu em Toulouse, “O Quartel do Despejo” de Maria Carolina de Jesus e gostei muito do ambiente brasileiro. Por isso depois do meu mestrado, baseado na história da Antilha Francesa, e depois iniciei o doutorado, que não conclui porque, era perigoso vasculhar os cartórios do Nordeste brasileiro em terras de coronéis.

E volta definitiva para o Brasil?
Me dediquei ao magistério, lecionando história no colégio Liceu na França e na Guiana Frances. Me aposentei em fevereiro passado e passei a dividir meu tempo entre o Brasil e a França onde tenho quatro filhos, franco-brasileiros.

E como veio parar em Campos?
Fui visitar uma amiga que considero como uma irmã de coração que conheço há 30 anos, por causa do Recife. E ela mora em Campos. Você vê similaridade entre Recife e Campos como o Paraíba com Capiberibe, a cana-de-açúcar e até a concentração de terras? As histórias são bem diferentes, mas mesmo com as problemáticas se confundindo, sendo as mesmas. A história da cana-de-açúcar aqui é totalmente diferente da história da Zona da Mata em Pernambuco, tanto sócio econômico, como político também.

Você chegou, em Recife, a conhecer o governador Miguel Arraes ou o cardeal Dom Helder?
Conheci um dos filhos do Miguel Arraes, um que é médico. Eu conheço bem a teologia da libertação, mas não cheguei a conhecer o cardeal.

Dom Helder dizia que o deserto era fértil. E as terras brasileiras são?
O sertão parece a continuidade do sahel africano. Cactos, obus e outras semelhanças da natureza, mesmo com os povos diferentes. Além de Pernambuco eu conheci o Amapá e o Pará um pouco. O Amapá conheci melhor, o interessante é que o Nordeste se tem uma visão da seca e na Amazônia, das cheias.

E os livros que você escreveu. Tratam de que?
O primeiro livro se chama “ Brasil meu amor- Carta o amigo” uma espécie de autobiografia que mostra um pouco a minha história através de uma carta que escrevo para o Brasil que eu personifiquei, mostrando o meu amor por esse país.

E o segundo livro?
Se chama, “O novo humanismo universal”. É um romance filosófico e utópico sobre uma outra organização das relações humanas no mundo.

O mundo hoje está mais humanizado, humanista?
Não. Apesar do discurso humanista e do progresso da democracia no mundo, nós estamos ainda na infância de uma humanidade responsável.

Os dois livros foram escritos na sua língua, em francês. Mas me parece que eles ficariam muito bem em português. Algum projeto?
Gostaria de ter uma editora que possa traduzir e desta forma eu lançar esses dois livros no Brasil, tanto em Campos, quanto no Recife, Rio, Macapá ou Belém. Esse é um projeto sim.

Parece que tem um terceiro livro a caminho?
Sim. Mas esse estou mais prevenido, e estou escrevendo simultaneamente em português e em francês. Conta a história de um escritor que busca o livro universal.

Que é uma missão quase impossível ou não? Lasix reviews
É um livro difícil sim, mas esse personagem, o escritor persegue essa ideia, como se tivesse essa missão com total prioridade. Conseguir um livro conjugando o tempo e o espaço.

E o fato que morar em Campos. Pensa em fazer o quê?
Bom. Como já disse, eu sou aposentado. Gosto de Campos e do Brasil. Penso aqui em dar aula em universidade como professor de história contemporânea e talvez abrir um Centro de Cultura Francesa, quem sabe…? Eu vou continuar também a escrever e ver sempre meus meninos na França.

Você viveu a era do François Mitterrand. Depois de Napoleão, foi realmente o maior estadista da história francesa?
Mitterrand foi um grande estadista bem espertinho. Sabia lidar com os contrários.Mas eu incluiria ai o Charles De Gaulle que para mim foi o estadista em cima de todos os partidos, tanto de direito quando de esquerda, que procurou o interesse geral do povo francês como o Mitterrand.