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A barra pesada do tráfico em Campos

Duas toneladas de drogas foram apreendidas na cidade em um ano e meio e 1.649 pessoas aguardam julgamento por tráfico

Campos
Por Redação
9 de julho de 2017 - 0h01

POR THIAGO GOMES E ULLI MARQUES

Duas facções criminosas fomentam o crime organizado na cidade

Duas facções criminosas fomentam o crime organizado na cidade

Aproximadamente duas toneladas de drogas em 1.350 apreensões nos últimos 18 meses; 1.649 processos decorrentes do tráfico tramitando nas três varas criminais de Campos. Os números divulgados pelo 8º Batalhão de Polícia Militar (8º BPM) e pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) confirmam que o tráfico de entorpecentes no município não tem dado trégua. Para agravar o quadro, as duas principais facções criminosas que atuam na cidade resolveram se unir para fortalecer ainda mais o crime organizado. O crescimento de roubos e furtos pode ser um dos reflexos imediatos dessa “parceria”. “A cidade já está tomada pelo tráfico, ele está presente em cada esquina”, declarou o juiz da 3ª Vara Criminal de Campos, Glaucenir de Oliveira.

Glaucenir, um dos juízes responsáveis pelas ações penais relacionadas ao comércio de entorpecentes na Comarca, foi categórico ao afirmar que o tráfico vem ganhando cada vez mais força no município. “Eu vejo isso todos os dias em meu tribunal. Quanto mais traficantes eu condeno, mais traficantes surgem para serem condenados. Um dos problemas do tráfico é o número de criminosos reincidentes, que é muito grande. A maioria deles já sai da cadeia direto para as bocas. Muitos deles eu reconheço na hora do julgamento”, destacou.

O juiz lembra que o tráfico é uma engrenagem que promove a violência e propicia uma série de outros crimes, que vão de corrupção de agentes públicos, passando por furtos, roubos, homicídios, comércio ilegal de armas e tantos outros.

Para o comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM) de Campos, tenente-coronel Fabiano Santos, o tráfico de drogas é, de fato, a raiz de grande parte das ocorrências de violência no município. “Essa prática se mostra ainda como um grave problema social, não somente em Campos, mas para toda população mundial”, disse.

Questionado sobre as ações que vem sendo executadas pela Polícia Militar a fim de coibir o tráfico de drogas, o comandante afirmou que inúmeras medidas são colocadas em prática, diariamente. “Esclarecemos que o município de Campos é patrulhado pelo 8º BPM por meio de rondas por viaturas distribuídas no horário de maior incidência criminal. Informamos ainda que a fim de inibir o tráfico de drogas e qualquer ilícito penal o 8°BPM realiza Policiamento Ostensivo 24h/dia, além de policiamento com moto patrulha, levantamento de informações pelo serviço de inteligência e diversas operações”, explicou.

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O comandante pede ainda aos munícipes que, caso observem alguma atitude suspeita nesse sentido, devem denunciar por meios dos telefones 190, disque denuncia (22) 2723-1177 ou Whatsapp Denúncia (22) 99850-6004. “Também é importante efetuar o registro das ocorrências nas delegacias, para que o estudo da mancha criminal possibilite novas estratégias de policiamento”, orientou o tenente-coronel.

Problema nacional — Mas a expansão do tráfico não acontece só em Campos. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pelo menos 32% da população carcerária no país foi parar atrás das grades por causa do tráfico de drogas. Isso representa um em cada três detentos. Boa parte ainda aguarda julgamento.

Lei branda

Juiz Glaucenir de Oliveira destaca que tráfico tem alto índice de reincidência (Foto: Silvana Rust)

Juiz Glaucenir de Oliveira destaca que tráfico tem alto índice de reincidência (Foto: Silvana Rust)

Na avaliação do magistrado Glaucenir de Oliveira, uma das causas para crescimento do tráfico está na própria lei de drogas nº 11.343 /06, que completou dez anos em 2016. Segundo ele, o dispositivo legal, além de brando, permite, ainda, a regressão de pena. Dessa forma, em menos de dois anos, o traficante já está de volta às ruas.

“Se for aplicada a pena mínima, por exemplo, que é de cinco anos, o traficante pode sair da prisão com apenas um ano e oito meses e receber o benefício do regime aberto. Só para se ter uma ideia desse absurdo: se alguém pula o muro de uma residência e furta uma bicicleta, o criminoso pode sair em dois anos, no caso de aplicada a pena mínima. Ou seja, o crime de tráfico, que na minha opinião é muito mais grave, tem penalidade mais branda do que o furto de uma bicicleta associado à invasão de uma residência. Alguns magistrados permitem isso, mas eu não concedo esse benefício”, ponderou Glaucenir.

Apenas no primeiro semestre deste ano, dos 12.331 habeas corpus e recursos recebidos no Superior Tribunal de Justiça (STJ), 3.506 são referentes a tráfico de drogas, ou seja, 30% do total. A informação é da presidente do órgão, ministra Laurita Vaz, ao ilustrar problemas na política de drogas no país. “O tráfico e o uso de drogas são males que têm afligido a sociedade de forma crescente nos últimos anos, que nos assusta e trazem por arrasto consequências maléficas”, disse.

Homicídios x assaltos
Quem acompanha as manchetes policiais de Campos já pôde perceber uma mudança de padrão no último mês. Até maio, reportagens sobre homicídios e tentativas eram constantes, principalmente na área de Guarus. Pelo menos um homem era morto por dia nas ruas da cidade, geralmente abordado por outros dois que disparavam de cima de uma motocicleta. Essa era a história mais ouvida pelos policiais militares e civis e reproduzida na imprensa.

No entanto, desde que as principais facções do tráfico de drogas atuantes no município — Terceiro Comando Puro (TCP) e Amigo dos Amigos (ADA) — decidiram unir as forças, no início do mês de junho, os assassinatos cessaram e, em seu lugar, outra prática criminosa ficou ainda mais intensa: os assaltos.

Seja aos transeuntes, aos estabelecimentos comerciais e até as residências, os roubos vêm se tornando um perigo cada vez maior para a população de Campos. Segundo o delegado titular da 146ª Delegacia de Polícia de Guarus, Luís Maurício Armond, ainda é muito cedo para avaliar, de forma contundente, as consequências dessa espécie de “parceria” entre as facções do tráfico; mas o aumento no número de ocorrências de assalto “é notório na cidade”, disse ele.

“A impressão que temos é de que, com a diminuição do conflito entre as organizações criminosas, o ‘trabalho’ delas é facilitado e o tráfico, por sua vez, também é fortalecido. Embora a união seja recente e ainda não tenha sido feita uma análise mais apurada a esse respeito, a Polícia Civil já está ciente dos possíveis efeitos causados por essa nova realidade criminal em Campos e está atuando para coibir a prática por meio de operações frequentes”, explicou.

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No dia 5 de junho deste ano, o Jornal Online Terceira Via anunciou a nova configuração do tráfico no município. Áudios foram divulgados em uma rede social, informando a fusão das duas facções, criando assim o Terceiro Comando dos Amigos (TCA). Nestas gravações, um dos traficantes diz: “mando um abraço para todos do ADA e do TPC e que todos fiquem na paz”, disse. Em um dos bairros mais violentos da cidade, o Parque Santa Rosa, traficantes anunciaram a união em muros da Rua Cidade Lima, com a frase: “Só paz, a guerra acabou” e também criaram uma página no Facebook para divulgar um baile funk, onde integrantes do TCP e ADA estariam reunidos. A decisão da união das facções teria ocorrido em um baile funk e foi determinada por Celso Luís Rodrigues, o Celsinho, da Vila Vintém.

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP), em maio de 2017 ocorreram 292 furtos e 204 roubos em Campos. Não é possível fazer um comparativo com os meses seguintes, já que os dados ainda não constam no sistema do órgão estadual. Mas as autoridades ligadas à segurança pública na cidade reconhecem que houve crescimento nesses tipos de crime.

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Amigos dos Amigos – Conhecida pela sigla ADA, é uma das três maiores organizações criminosas da cidade do Rio. A facção surgiu em 1994. O nome original “Amigos dos Amigos” foi dado pela união do TC (Terceiro Comando) com o traficante conhecido como Pintoso. Foi aliada ao Terceiro Comando até a sua extinção, no início da década de 2000.

Terceiro Comando Puro – Conhecido também pela sigla TCP, é a segunda maior organização criminosa carioca, surgida no Rio de Janeiro, no complexo de Acari e Senador Camará no ano de 2002, a partir de uma dissidência do Terceiro Comando liderada pelo traficante Facão.

Jovens no Tráfico
Segundo os dados mais recentes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre o assunto, em 2016 dobrou o número de adolescentes cumprindo medida socioeducativa no país – em novembro de 2015 havia 96 mil menores nessa condição e no ano passado eram 192 mil. Ainda segundo o órgão, o tráfico de drogas é o crime mais frequente entre os jovens no Brasil; em 2016 havia quase 60 mil guias ativas expedidas pelas Varas de Infância e Juventude do país por este ato infracional.

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NÚMEROS DO TRÁFICO

Drogas apreendidas na cidade*

2016 – Janeiro a Dezembro

Maconha – 1.521,372 quilos;

Cocaína – 117,474 quilos;

Crack – 14,233 quilos;

Ecstase – 196 compridos.

 

2017 – Janeiro a Junho

Maconha – 149,344 quilos;

Cocaína – 39,562 quilos;

Crack – 5,547 quilos;

Ecstase – 105 compridos.

*Dados 8º BPM

 

Apreensão de drogas*

2016 – Janeiro a Dezembro

1001 ações de apreensão de drogas realizadas pela PM, sendo 597 ocorridas na área da 134ª DP (Centro) e 404 registradas na 146ª DP (Guarus).

2017 – Janeiro a Maio

349 apreensões de entorpecentes na cidade, sendo 196 na área da delegacia do Centro e outras 153 na de Guarus.

*Dados do Instituto de Segurança Pública do RJ