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A história que sai dos trilhos

Petição eletrônica colhe assinaturas para que o Trem Cacique volte para a terra dos índios Goitacá

Campos
Por Redação
27 de junho de 2017 - 15h32
Passageiros se arrumavam e se deslocavam à antiga Estação Leopoldina para embarcar no trem que levava a vários destinos, um deles era a capital do estado do Rio de Janeiro (Foto: Hugo Caramuru)

Passageiros se arrumavam e se deslocavam à antiga Estação Leopoldina para embarcar no trem que levava a vários destinos, um deles era a capital do estado do Rio de Janeiro (Foto: Hugo Caramuru)

Casamentos, início de namoro, mordomias, tranquilidade. Tudo isso poderia acontecer em qualquer ocasião e lugar, mas eram histórias reais que aconteciam entre passageiros de trens ferroviários de Campos, mais especificamente dentro dos vagões do Trem Cacique, um dos mais tradicionais do município.

Em Campos, a rede ferroviária foi construída no século 19 e teve seu funcionamento definitivamente finalizado no ano de 2007. Atualmente várias pessoas pedem pela volta da circulação de trens e até uma petição pública está sendo enviada para que o retorno se concretize. Mais de 300 pessoas já assinaram a reivindicação.

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Pela volta do trem
Segundo o documento, a reativação da linha ferroviária pode trazer muitos benefícios. “Sabemos que a reativação da ferrovia, com consequente restauração de material rodante, modernização, duplicação e retificação das linhas e da reativação do transporte de passageiros pelo poder público ou por alguma empresa que se interessar, não vai resolver definitivamente o problema, mas vai ajudar a diminuir o tráfego de veículos pela rodovia, trazendo qualidade de vida aos motoristas e ajudar a salvar vidas, tirando do asfalto vítimas de tragédias. Poderemos, assim, ajudar a reativar um sistema de transporte eficiente, ecológico (menos poluente que o transporte rodoviário) e seguro, além de agradável e atraente do ponto de vista histórico, cultural e turístico.”

O trem Cacique recebeu este nome depois de uma disputa entre moradores do estado do Rio e do ES

O trem Cacique recebeu este nome depois de uma disputa entre moradores do estado do Rio e do ES

O Trem Cacique, que chegava a ter mais de 20 vagões, fazia viagens noturnas que saíam de Campos com destino a Macaé, Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Rio Bonito, Itaboraí e também Rio de Janeiro e cidades do Espírito Santo.

Os trens – cujos vagões saíam sempre lotados todos os dias – contribuíram para o progresso do Estado e de vários municípios. Os vagões eram divididos por categorias. Havia leitos, restaurantes, além das classes 1 e 2. O veículo realizava paradas em Duque de Caxias, Magé, Visconde de Itaboraí, Rio Bonito, Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Macaé, Conde de Araruama, Campos, Murundú, Santo Eduardo, Ponte do Itabapoana, Mimoso do Sul, Muqui e Marapi.

O supervisor Paulo de Tarso, de 56 anos, trabalhou como maquinista do Trem Cacique e tem muitas histórias inusitadas para contar. “Comecei a trabalhar como maquinista no ano de 1979 e foram anos incríveis. Eram tantas histórias interessantes, como, por exemplo, casamentos, casais que se apaixonavam durante as viagens e até mesmo uma senhora que gostava muito de dormir durante os trajetos e, por saber disso, os responsáveis pelo trem sempre separavam um maquinista especial para ela, para que tivesse uma viagem tranquila e um bom sono”, lembrou.

Ainda de acordo com o funcionário, as viagens de trens podiam ser feitas por qualquer classe social, já que as passagens chegavam a ser 50% mais baratas que a de ônibus. “Os passageiros mais comuns eram aqueles que iam a médico e muitas famílias que viajavam para passeios”, disse Paulo relembrando que os passageiros estavam sempre muito bem arrumados. As mulheres usavam vestidos longos e chapéus e homens com seus ternos alinhados.

Segundo ele, a maioria das histórias deixadas pelo Trem Cacique foi boa, mas Paulo de Tarso não esquece uma tragédia registrada. “Foi um terrível acidente próximo a Tanguá, que deixou várias pessoas mortas. Mães com a intenção de salvar seus filhos, pegavam as crianças e pensavam que estavam jogando eles na areia, mas, como estava escuro, elas não conseguiam ver que, na verdade, seus filhos eram jogados em um rio e vários morreram”, disse o funcionário, que atualmente trabalha na rede ferroviária de Cachoeiro de Itapemirim.

Para o funcionário, a volta da circulação de trens seria um sonho. “São muitas histórias e dentro de todo esse histórico existe uma cultura imensa. Além de proporcionarmos uma viagem tranquila aos passageiros, também evitaríamos muitos acidentes pelas rodovias e gastaríamos menos, já que as passagens de ônibus atualmente são muito caras”, finalizou Paulo de Tarso.

O nome do trem foi escolhido em uma discussão regional. Capixabas desejavam que o nome fosse “Aymorés”, em homenagem à tribo indígena da região. Já os campistas queriam o nome “Goitacá”, em referência aos índios que habitavam a cidade. Com o impasse, o nome escolhido foi Trem Cacique. O trem circulou pelos trilhos dos municípios fluminenses e capixabas até o ano de 1984.

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Estação ferroviária de Santo Eduardo

Estação ferroviária de Santo Eduardo

Pela produção da cana-de-açúcar e por ser a primeira cidade do país com luz elétrica, Campos logo chamou a atenção de indústrias e do comércio varejista, precisando obviamente de um meio de transporte. A primeira estação ferroviária foi criada em novembro de 1877. Diante do aumento de passageiros na ferroviária, outras começaram a ser criadas, como a estação de Guandú, de Conselheiro Josino, Morro do Coco, Murundu e Santo Eduardo.