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Bêbados e perigosos

Trânsito em Campos é um dos mais violentos do país e álcool potencializa o perigo

Campos
Por Redação
18 de junho de 2017 - 12h47

POR LAILA NUNES, PATRÍCIA BARRETO Antabuse online E THIAGO GOMES

Acidente matou a publicitária Marcelle Costa Ferreira e feriu seu filho de apenas nove anos (Foto:

Acidente matou a publicitária Marcelle Costa Ferreira e feriu seu filho de apenas nove anos

“Quero que ele pague também na justiça dos homens, porque, da justiça divina, ninguém escapa. Que este acidente sirva de aprendizado para que este cidadão, na próxima vez, lembre da Marcelle quando for dirigir um carro após ter bebido”. O desabafo é de José Augusto Manhães Ferreira, pai da publicitária Marcelle Costa Ferreira, 28 anos, morta em um acidente de carro, no dia 10 de junho. O Sandero que Marcele dirigia, no qual estava seu filho de nove anos, foi atingido no cruzamento da Avenida Arthur Bernardes com Marcílio Martins, no bairro Alphaville pela caminhonete Hillux guiada pelo supervisor de produção Jhon Peter Aleixo Ferreira, de 30 anos.

Mas não é de hoje que a violência faz parte do trânsito de Campos: uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNI), divulgada ainda em dezembro de 2009, colocava a cidade entre as 12 do Brasil com o maior número de óbitos no trânsito. Neste ranking, se fossem consideradas somente as cidades que não são capitais, Campos assumiria a vice-liderança, perdendo só para Guarulhos, em São Paulo.

O estudo técnico usou como base dados dos Departamentos Estaduais de Trânsito (Detran),  inistério da Saúde, seguro DPVAT e outros mecanismos ligados ao trânsito. As análises deste estudo mostram que a maior parte das vítimas fatais do trânsito no Brasil era de homens jovens. “Ainda é muito forte no Brasil uma cultura entre os homens jovens de conduzirem veículos sob o efeito de álcool e drogas, e em alta velocidade”, concluiu o estudo.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ), de janeiro a abril de 2017, ocorreram 12 homicídios culposos (sem intenção) no trânsito de Campos, sendo nove registrados na 146ª Delegacia Legal (Guarus) e três na 134ª Delegacia Legal (Centro). Os dados de maio e junho ainda não haviam sido inseridos no sistema do órgão estadual até o fechamento desta matéria. Já em 2016, foram 91 homicídios culposos ocorridos no trânsito das ruas, avenidas e estradas que cortam Campos, sendo 45 na área e Guarus e 46 na do Centro.

O psicólogo clínico do Sest-Senat, Sharlys Jardim, explica que, ao contrário do que a maioria pensa, o álcool não é uma droga estimulante, mas depressora. Na hora da ingestão das primeiras doses, há a sensação de bem-estar, prazer e até autoconfiança. No entanto, logo depois começam os outros efeitos: dificuldade de raciocínio, perda considerável dos reflexos, baixa na visão, sonolência e outros sintomas que transformam quem está ao volante em um potencial homicida. Para o profissional, que trabalha diariamente com motoristas, o álcool é um dos responsáveis por tornar o trânsito mais violento.

“Não há dúvidas de que a combinação de álcool, drogas e direção aumenta as estatísticas de mortes no trânsito brasileiro”, pontuou o psicólogo.

Relatos de um pai

Para o pai da publicitária Marcelle, restou lidar com a dor da ausência e a preocupação com o neto Davi Ferreira de Oliveira, que continua internado no Hospital Dr. Beda. “Ela era uma ótima filha, mãe e profissional, agora nos resta cuidar dos que ficaram, como o meu neto de nove anos que estava no carro no momento do acidente”, disse José Augusto Manhães Ferreira.

Segundo boletim médico, divulgado no último dia 13, Davi sofreu fratura em um dos braços e a equipe médica avaliava a possibilidade de uma cirurgia. Já no boletim de ocorrência do acidente, registrado na 134ª Delegacia Legal (Centro), policiais militares relataram que Jhon passou por exame de alcoolemia, que constatou 0,32 miligrama de álcool por litro de sangue (mg/l). No entanto, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, só a partir de 0,34 mg/l que configura crime de embriaguez ao volante.

Até o momento, Jhon está respondendo por homicídio culposo (sem intenção) pela morte de Marcelle e lesão corporal culposa (sem intenção) pelos ferimentos causados a Davi.

O pressentimento de uma mãe

Pais pedem justiça pela morte do médico . José Roberto Izaias (Foto: Silvana Rust)

Pais pedem justiça pela morte do médico . José Roberto Izaias (Foto: Silvana Rust)

O futuro promissor do menino pobre de Guarus, que tirou o primeiro lugar em uma das universidades mais conceituadas do Rio de Janeiro, acabou na BR-356 (Campos/São João da Barra). O apoio – financeiro e emocional – aos pais que sempre criaram os cinco filhos com muito sacrifício, também encerrou em meio às peças do carro que restaram da colisão. José Roberto Izaias foi vítima de um trânsito violento endossado pelo álcool. Segundo a Polícia, o segundo motorista envolvido no acidente estava embriagado.

Em 2005, ele se envolveu no mesmo tipo de crime, também alcoolizado. Mas, não sofreu as penalidades diante da lentidão da Justiça. Dessa vez, a família de José Roberto Izaias Junior afirma que a justiça não vai deixar o suspeito impune.

Em fevereiro de 2016, o médico oncologista morreu depois que um carro conduzido por um motorista embriagado invadiu a pista contrária. As irmãs Eveline e Érica também estavam no veículo com mais duas crianças. Entre elas, um bebê de um mês. José Roberto morava no Rio de Janeiro, desde 2004, quando foi aprovado para o curso de Medicina. Dona Nilza lembra com carinho do filho que “sempre trabalhou para dar o melhor para os pais”.

“No dia do acidente, eu não sabia que o José Roberto estava em Campos. Mas, ele costumava chegar e ir direto para a casa da irmã (Eveline), por isso não estranhei. Passei de ônibus e o avistei com aquele sorriso largo, bonito, só que eu não senti alegria. Senti uma sensação ruim e fiquei assim o resto do dia. Já em casa, conversando com Deus, me perguntava por que estava sentindo aquilo, por que queriam tirar meu filho de mim e só conseguia pensar: ‘eu não aceito’. Eu não conseguia entender o porquê daquele sentimento ruim”, relata dona Nilza.

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No domingo de manhã, a notícia do acidente levou ‘Quitute’ — apelido carinhoso que José Roberto deu à mãe — para o pronto socorro. “Foi uma dor tão grande no peito que eu achava que remédio ia fazer passar. Mas, até hoje não passou. Faço exames com regularidade. Me cuido. Mas, essa dor no peito não passa desde aquele dia 20 de fevereiro”.

O pai, o aposentado José Roberto, tem 95 anos, já sofreu quatro Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e tem Alzheimer. “Ele não sabe da morte do filho, que apesar de ser o mais novo, foi o que recebeu o mesmo nome do pai. Eles tinham uma ligação forte. Ele pergunta pelo José Roberto e digo que está trabalhando. Deixa ele pensar assim. Melhor do que morrer apaixonado”, afirma dona Nilza, que aponta o motorista alcoolizado envolvido no acidente como culpado.

“Minhas filhas estavam no carro e afirmam que José Roberto não estava correndo. E eu cansei de viajar com ele e sei que era muito prudente. Eu acredito que terminou o tempo do meu filho na Terra. Mas, eu culpo o outro motorista, sim. Quero que a Justiça seja feita para que outra família, outra mãe, não sinta a dor que estou sentindo. Se a pessoa vê que não tem condições de dirigir, por que pega o carro? Para destruir vidas preciosas e cheias de sonho como foi o caso do meu filho?”, questiona.

As irmãs Eveline e Érica sofreram ferimentos no abdome e fratura no fêmur, respectivamente No próximo dia 27 acontece a primeira audiência sobre o acidente. “Queremos Justiça. A morte do meu irmão não vai passar impune”, afirmaram as irmãs do médico.

Operação Lei Seca

Operação Lei Seca autua motoristas embriagados há oito anos no Estado do Rio (Foto: Divulgação)

Operação Lei Seca autua motoristas embriagados há oito anos no Estado do Rio (Foto: Divulgação)

O número de motoristas que dirigem sob efeito do álcool ainda é elevado no Estado do Rio de Janeiro, mas esta estatística diminuiu desde a criação da Operação Lei Seca, há oito anos. Segundo dados do órgão, em todos estes anos, houve uma diminuição de 43% dos motoristas flagrados alcoolizados em blitze. De março de 2009 a março de 2017, mais de 2,4 milhões de motoristas foram abordados nas mais de 17 mil operações em todo o Estado.

Destes, cerca de 167 mil apresentavam sinais de embriaguez e tiveram suas carteiras de habilitação recolhidas. O número de mortos no trânsito diminuiu 28% para cada 100 mil habitantes. Segundo divulgou a Procuradoria Geral da República, em maio de 2017, o Tribunal de Justiça autorizou a punição para motoristas que se recusam a fazer o teste de bafômetro. Com a decisão, os condutores não poderão alegar violação do direito fundamental à não autoincriminação.

Segundo a legislação de trânsito, quem é flagrado dirigindo sob a influência de álcool terá a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa por um ano e recolhida pagará multa de R$ 2.934,70, terá retenção do veículo até a apresentação de um condutor habilitado.

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Caso seja flagrado novamente, no período de até 12 meses, a multa será aplicada em dobro. De acordo com o Artigo 277 do Código de Trânsito Brasileiro, “todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool, será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran)”.