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Menor infrator: problema que cresce em Campos

Violência em Campos cresce entre as crianças, que acabam sendo recrutadas como “soldados” do tráfico

Campos
Por Redação
21 de maio de 2017 - 6h00

operacao-familia-expulsa-silvana-rust-41Campos é a cidade mais populosa e com a maior extensão territorial do interior do Estado do Rio de Janeiro. Além disso, é conhecida pela sua história dos índios goitacás, pela sua política e pelo pólo universitário.

Mesmo com tantas histórias interessantes, o município também apresenta números preocupantes na segurança. Campos foi considerada uma das cidades mais violentas do mundo. No ano passado, a cidade do Norte Fluminense ocupava a 39ª posição, em uma pesquisa divulgada pelo Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal.

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Estado, no primeiro trimestre do ano passado, 242 apreensões de drogas foram feitas na 134ª DP do Centro e 146ª DP de Guarus, enquanto 108 menores foram apreendidos. Já no primeiro trimestre de 2017, houve 174 apreensões de drogas e 100 adolescentes foram apreendidos.

Segundo o delegado titular da 134ª Delegacia Legal do Centro, Geraldo Rangel, é crescente o aumento de menores que entram para o tráfico de drogas. “Podemos perceber claramente que, a cada dia que passa, é maior o número de adolescentes no tráfico de drogas, e este assunto já foi muito discutido, como por exemplo, na questão da maioridade penal. Os adolescentes são usados como ‘ferramentas’ pelo tráfico de drogas. Além disso, eles se tornam muito confiantes no que fazem, já que não podem responder criminalmente por isso. O máximo que pode acontecer com ele é ficar internado em uma entidade socioeducativa por um período de tempo”, explicou o delegado.

Delegado Geraldo Rangel (JTV)

Delegado Geraldo Rangel alerta para o crescimento de menores no crime (JTV)


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Segundo o psicólogo Luiz Antonio Cosmelli, a situação social está muito ligada à vida criminosa do adolescente. “A maioria dos menores canaliza a falta da família e a falta de oportunidade, no tráfico de drogas, já que assim ele consegue obter melhorias com mais facilidade, além da sensação de poder que ele tem” explicou Luiz.

Ainda de acordo com o psicólogo, esses adolescentes são muito mais violentos e frios durante a prática do crime. “Essas pessoas não têm consciência dos perigos e ainda não possuem uma personalidade formada. Na maioria das vezes eles não são bem orientados pelas famílias e não têm limites. Atualmente a mídia divulga tantos crimes de alto escalão, que eles pensam: Por que não posso fazer algo de errado para melhorar minha vida?”, ressaltou o psicólogo lembrando que “a publicidade de bens de consumo nas mídias, desperta o desejo de compra em todos e também nas pessoas de classes sociais mais baixas. Só que, sem poder aquisitivo, eles acabam migrando para a criminalidade com a ilusão de conseguir dinheiro fácil, mas isso requer um alto preço a pagar”.

Para o especialista, a melhor maneira de evitar que o adolescente entre para o mundo da criminalidade é ter uma família estruturada e uma escola que atenda às necessidades do jovem. “É bom lembrar também que o tráfico de drogas não está apenas na comunidade carente. O tráfico também está na classe média e alta que compram a droga pára consumo nas comunidades”, finalizou.

Taxista morto por adolescentes

Foto: divulgação

Taxista foi friamente executado por adolescentes (Foto: divulgação)

Toda a frieza e adequação ao crime que o delegado Geraldo Rangel explicou que o adolescente tem por causa da personalidade ainda sem formação foi possível notar em dois menores.No dia 10 de janeiro de 2017, dois adolescentes – de 15 e 16 anos – mataram o taxista Paulo César Rosa Ferreira Júnior, de 40 anos, que reagiu a um assalto na localidade de Santa Ana, em Campos.

Segundo informações da Polícia Militar, o taxista estava no ponto da Praça São Salvador, no Centro, quando os adolescentes pediram uma corrida até a estrada de Brejo Grande. Ao chegarem ao local, eles anunciaram o assalto e obrigaram o taxista a dirigir até a localidade de Santa Ana. No caminho, o veículo – Etios de cor prata – ficou sem combustível. Paulo César tentou sair do táxi, mas foi atingido por uma coronhada na cabeça. Neste momento, os menores atiraram na vítima. Os disparos atingiram a cabeça e o tórax do taxista, que morreu na hora. Os adolescentes ainda roubaram os pertences da vítima e fugiram.

Durante as buscas, a PM conseguiu apreender os criminosos em uma área próxima ao local do assassinato. Os menores confessaram ter matado o taxista. Com eles foram encontrados dois revólveres calibre 38, uma câmera fotográfica, um relógio, um celular e R$ 38. Na casa dos adolescentes, no bairro Jardim Aeroporto, também em Guarus, os policiais ainda apreenderam mais um revólver calibre 38, além de munições.

Degase

O Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) é a entidade de internação para onde o menor infrator é encaminhado após infringir a lei. Mas as condições do local não são as melhores. Servidores e internos da instituição – que funciona no município de São Fidélis – reivindicaram diversas vezes por melhorias na instituição.

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Falta de alimentação, estrutura precária, falta de segurança aos servidores e até mesmo fugas de internos. Os problemas são muitos e os protestos também. No dia 20 de dezembro, os adolescentes foram liberados do Degase para passar as festas de fim de ano junto com a família e deveriam retornar no dia 02 de janeiro. No entanto, a empresa que fornece alimentação aos menores suspendeu o serviço diante do não pagamento de faturas anteriores por parte do governo do estado.

Com a suspensão do serviço, os familiares dos jovens teriam sido orientados pela administração da unidade a retornar com os menores somente no dia 09. Já no dia 06 de março, outra denúncia trouxe à tona a infestação de animais peçonhentos no Degase. Em imagens divulgadas nas redes sociais é possível ver escorpiões, cobras, ratos, baratas e lacraias saindo de bueiros, em meio aos entulhos espalhados pelo pátio e também em áreas com mato alto, que não é cortado regularmente. Os animais estariam urinando e defecando nos corredores por onde passam diariamente os servidores públicos e também os internos.

 Os funcionários denunciaram o caso de insalubridade ao sindicado dos servidores do órgão e apontaram outras questões que também merecem atenção, como o fornecimento de água, que estaria prejudicado desde a inauguração, em maio de 2013. Porém, com a crise financeira que atinge o Governo do estado do Rio, os investimentos no local são muito baixos.

Números no país

Segundo uma pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgada em 2016, no último ano, dobrou o número de adolescentes cumprindo  medidas socioeducativas no país – em novembro de 2015 havia 96 mil menores nessa condição e em 2016 eram 192 mil. Em 2017, só no primeiro trimestre, 100 menores foram apreendidos em Campos.

O tráfico de drogas é o crime mais frequente entre os jovens; há quase 60 mil guias ativas expedidas pelas Varas de Infância e Juventude do país por este ato infracional.

Cerca de 90% dos jovens que cumprem medida socioeducativa são do sexo masculino e a liberdade assistida é a medida mais aplicada aos menores, atingindo atualmente 83.603 adolescentes.

A medida consiste no acompanhamento, auxílio e orientação do adolescente em conflito com a lei por equipes multidisciplinares, por período mínimo de seis meses, com o objetivo de oferecer atendimento nas diversas áreas de políticas públicas e inserção no mercado de trabalho. A segunda medida mais aplicada é a prestação de serviços à comunidade, abrangendo 81.700 jovens atualmente, que devem realizar tarefas gratuitas e de interesse comunitário durante período máximo de seis meses e oito horas semanais.