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Crise naufraga Complexo Farol – Barra do Furado

Prefeituras de Campos e Quissamã sonham com a retomada das obras e comerciantes vivem um pesadelo

Economia
Por Thiago Gomes
14 de maio de 2017 - 7h00
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Canteiro de obras o Complexo Logístico Farol-Barra do Furado está completamente abandonado. (Foto: Silvana Rust)

Vendido pelos últimos governos de Campos e Quissamã como “um negócio da China”, o Porto e Complexo Logístico e Industrial Farol-Barra do Furado… furou. Pelo menos por enquanto, já que as obras estão paradas desde meados de 2014 e, de acordo com as atuais administrações dos dois municípios, não há prazo para retomada por falta de verba. No entanto, mesmo se este dinheiro necessário para a conclusão do empreendimento surgisse hoje, os trabalhos não poderiam ser retomados de imediato, já que também são necessárias as renovações das licenças ambientais e de instalação. À frente das obras estava o consórcio Terra e Mar, formado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão, todas envolvidas, até o último tijolo, no escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.

O projeto inicial, a ser instalado parte em Campos e parte em Quissamã, era chamado apenas de Complexo Logístico e Industrial Farol-Barra do Furado (sem o porto). É um empreendimento a ser formado por três estaleiros, um terminal de combustíveis e base para apoio às plataformas de petróleo, além de um moderno terminal pesqueiro. O total estimado inicialmente, conforme divulgado na época pelo site oficial da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Campos, era de cerca de R$ 170 milhões. Destes, R$ 50 milhões seriam disponibilizados pelo Governo Federal, R$ 20 milhões pelo Governo do Estado, R$ 70 milhões pelo município de Campos e R$ 30 milhões por Quissamã. Em novembro de 2014, o mesmo site anunciou que a Prefeitura de Campos iria investir mais cerca de R$ 345 milhões.

“Tem bastante dinheiro enterrado nessas areias. Daria para construir muitas casas populares, hospitais, melhorar a vida das pessoas”, desabafou a dona de casa Zenilda da Silva Fidelis, que mora de frente para o projeto abandonado.

No dia 15 de fevereiro de 2012, a então prefeita de Campos, Rosinha Garotinho; o governador da época, Sérgio Cabral; e o prefeito de Quissamã naquele período, Armando Carneiro, participaram de uma cerimônia que marcou o início das obras de estaqueamento do Complexo Logístico.

Os trabalhos começaram com prazo de conclusão estimado para 2016. Mas, quase dois anos antes, o consórcio Terra e Mar paralisou tudo, sem dar qualquer explicação à comunidade, conforme reclamam os moradores. A segunda fase das obras hidráulicas chegou a ser anunciada em março do ano passado pela Prefeitura de Campos, mas não aconteceu.

Atualmente, ainda segundo os vizinhos do empreendimento, apenas dois vigias se revezam para tomar conta do espaço que um dia foi ocupado por pedreiros, técnicos de solda, engenheiros, serventes, operadores de máquinas, motoristas e outros profissionais. O intenso movimento de caminhões carregados de pedras, dragas, retroescavadeiras, balsas, e outras máquinas, já não existe mais. Assim como o dinheiro, que circulava pelo local na época em que as obras estavam em andamento. A comunidade, que um dia chegou a sonhar alto, voltou à rotina tranquila de cidadezinha do interior, vivendo basicamente da pesca, agricultura e comércio.

Parado — Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Campos, a primeira etapa das obras está 60% concluída, aguardando disponibilidade financeira para o término dos outros 40%. Uma segunda etapa das intervenções depende inicialmente de trâmites de renovação de convênio para prosseguimento.

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Dono de uma pousada joga a toalha e anuncia que fechou. (Foto: Silvana Rust)

Economia enfraquecida

A estimativa no início era de gerar 15 mil empregos. Mas isso ficou apenas na expectativa, como lamenta Liete Cordeiro Reis, dona de um restaurante localizado em frente ao canteiro de obras. Ela lembra de que no auge do movimento das empresas que trabalhavam no local, conseguia vender cerca de 120 refeições por dia. Na última quarta-feira (10), quando a equipe de reportagem visitou Barra do Furado, Liete tinha vendido somente seis pratos.

“Quando isso tudo começou, os executivos da obra vieram conversar comigo, disseram que era para eu investir na ampliação do restaurante, pois Barra do Furado iria crescer muito. Mas olha o estado disso tudo, completamente abandonado. Ainda bem que não caí nessa conversa, ou hoje estaria endividada. O comércio aqui praticamente acabou. Agora esperamos o verão e o Carnaval para que as vendas aumentem”, disse Liete, aliviada por não ter contraído dívidas, mas triste por não testemunhar a promessa de crescimento levada até a comunidade junto com o Complexo Logístico e Industrial.

Pela vizinhança, não é incomum encontrar nos imóveis placas de “aluga-se”, assim como a equipe de reportagem achou um ponto comercial e uma pousada que encerraram suas atividades na Avenida Atlântica, que fica em frente à obra. Alguns comerciantes, como Odemir Mendes Teixeira, que também é dono de restaurante no local, preferem manter seus estabelecimentos abertos parte do dia, já que os clientes são poucos. “O restaurante vivia cheio, mas agora isso acabou”, reclamou Odemir.

Sem visitas

O Centro de Informações do Complexo Logístico e Industrial de Barra do Furado é um espaço montado e mantido pela Prefeitura de Quissamã, para receber visitantes interessados em conhecer o projeto. No entanto, o atual responsável pelo espaço, o servidor público quissamaense Antônio Julho da Silva, revela que as visitas têm sido quase inexistentes. O Centro possui com uma maquete e painéis que detalham o Complexo, mas é algo que vem despertando cada vez menos interesse.

“No início isso aqui vivia cheio de gente, todos querendo conhecer como o Complexo Industrial ficaria após a conclusão das obras. Agora, de vez em quando, aparece um ou outro”, pontuou Antônio Julho.

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As prefeituras de Campos e Quissamã garantem que estão se articulando, buscando apoio político para a retomada da obra. O secretário de Desenvolvimento Econômico de Campos, Victor de Aquino, disse que está viabilizando parcerias, junto a grupos empresariais. Ainda segundo Victor, é muito importante para o município o Complexo de Barra do Furado, porque representa a geração de empregos que o prefeito Rafael Diniz defende para diminuir a dependência dos royalties do petróleo.

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“Independente do convênio, que deve ser renovado, o dinheiro pode não sair nesse momento devido à crise nacional e vamos então buscar as Parcerias Público-Privadas ou, até mesmo, criar uma Companhia Portuária reunindo Campos e Quissamã para administrar o Complexo. Mas o importante nesse momento é conversar com os atores envolvidos e retomar o projeto”, garantiu Victor.

Em nota, a Prefeitura de Quissamã informou que, junto com Campos, tem se reunido e feito todo o levantamento do histórico da obra do empreendimento, já que ambos os municípios estão sob nova gestão e encontraram dificuldade no acesso à informação sobre o projeto.

“Atualmente, está em andamento a renovação das licenças ambientais e a renovação da licença de instalação do Complexo. A prefeita de Quissamã, Fátima Pacheco, esteve em Brasília na Secretaria Nacional dos Portos, colaborando com o convênio que existe entre a instituição e a Prefeitura de Campos, no valor de R$ 320 milhões. Esse recurso será destinado à segunda fase da construção que engloba as duas cidades”, afirmou o comunicado.