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Por um fio: gambiarras da área central estão com os dias contados

Prefeitura de Campos e Enel negociam retomada das obras de revitalização do Centro, com fiação subterrânea

Campos
Por Thiago Gomes
2 de abril de 2017 - 8h06

ha4b0976-copiaA história da revitalização do Centro Histórico de Campos parece ganhar um novo capítulo a partir deste mês. A Enel, empresa responsável pela distribuição de energia elétrica no município, e a nova administração da Prefeitura estão em diálogo para solucionar o que talvez seja o maior impasse dessas obras: a substituição dos postes e da fiação aérea por tubos subterrâneos. Esta era uma das principais promessas quando, há quatro anos, o governo anterior anunciou o início das intervenções na região central da cidade. A ideia era dar um fim à poluição visual causada pelos emaranhados de fios nas ruas do Centro, mas supostas inconformidades no projeto teriam impedido a realização dessa etapa das obras.

O projeto de revitalização do Centro Histórico previa que, assim que as etapas emergenciais fossem concluídas, o próximo passo seria a substituição gradativa da rede elétrica aérea, sustentada por postes, pela implantação de caixas subterrâneas e tubos de passagem dos cabos de energia, telefonia, internet e TV, entre outros serviços. Ao longo dos anos de 2015 e 2016, O Jornal Terceira Via publicou inúmeras reportagens denunciando a demora na conclusão dessas obras. Em setembro do ano passado, a gestão anterior da Prefeitura interrompeu as intervenções sem dar uma explicação à população de Campos e, principalmente, aos comerciantes do Centro Histórico.

Em dezembro, a Enel Distribuição Rio (antiga Ampla) emitiu uma nota informando que “a Prefeitura de Campos executou a obra civil e eletromecânica de fiação subterrânea do Centro Histórico sem que o projeto fosse previamente aprovado pela distribuidora de energia, o que é essencial em casos de obras que afetem a rede elétrica”. Por este motivo, “uma vistoria técnica feita pela companhia detectou diversas inconformidades na execução do serviço, que deveriam ser reparadas pela empresa responsável pela obra a fim de se adequar às normas técnicas e de segurança estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”. Ainda na nota, a Enel afirmou que “a rede aérea só poderá ser retirada quando os reparos forem feitos pelo município”.

Questionada pela equipe de reportagem do Jornal Terceira Via na última semana, a atual gestão da Prefeitura de Campos garantiu que “será realizada uma nova vistoria com os órgãos e a empresa para levantamento de custos no local para regularização das inconformidades”. Isso teria sido definido em reunião com representantes da Superintendência de Iluminação Pública, da Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana e da empresa responsável pelas obras no Centro Histórico. O governo municipal destacou ainda que, após este levantamento, “as intervenções deverão ser novamente orçadas para posterior início efetivo dos trabalhos” e que “está prevista uma nova reunião em abril para definição dos últimos detalhes para realização da intervenção”. Diante dessa resposta, a Enel Distribuição Rio foi novamente procurada por O Jornal Terceira Via. Desta vez, a concessionária voltou a dizer que “as obras do Centro de Campos foram iniciadas sem a aprovação do projeto”, o que só ocorreu no final do ano passado, e, por essa razão, será necessário “conferir se os materiais e equipamentos utilizados na construção são os mesmos relatados na versão final do documento aprovado pela companhia”. Para isso, a Enel disse que “o governo municipal precisa apresentar nos próximos dias toda a documentação referente aos materiais utilizados para que a distribuidora realize uma inspeção na rede subterrânea”. Dessa forma, “assim que forem solucionadas as pendências do projeto pelo município, com adequação às normas técnicas e de segurança estabelecidas pela Aneel, as obras poderão prosseguir”.

Obras custariam R$ 65,4 mi

Orçada em R$ 65,4 milhões, a obra de revitalização do Centro Histórico de Campos começou em junho de 2012 e tinha prazo de conclusão de três anos. Entre as intervenções previstas no projeto estavam a reforma do sistema de drenagem, pavimentação e conversão das redes concessionárias de iluminação e telefonia, além de melhorias nas condições do asfalto, das galerias pluviais e da rede esgoto.

Outras intervenções incluídas no projeto original foram a adequação das calçadas para pedestres e deficientes visuais; arborização; construção de plataformas de travessia nos cruzamentos, facilitando a locomoção dos cadeirantes; requalificação de áreas verdes; e padronização do tamanho dos letreiros das lojas. Essa revitalização é um sonho antigo dos comerciantes do Centro Histórico, que esperavam trabalhar em um local com infraestrutura adequada e acessibilidade.

Após a interrupção das obras, em setembro do ano passado, a IMBEG, empresa que iniciou a revitalização do Centro Histórico, informou ao Jornal Terceira Via que “a não conclusão deveu-se a fatores que extrapolavam a vontade da empresa” e que a razão teria sido “a falta de alocação de recursos por parte da Prefeitura”.

Deficientes visuais sofrem com os postes na calçada

Os deficientes visuais que caminham pelo Centro Histórico de Campos são os mais prejudicados pela interrupção das obras. Isso porque, no meio do caminho dos pisos táteis implantados durante o governo Rosinha Garotinho, permanecem os postes de energia elétrica e de telefonia e, caso os deficientes sigam a orientação dos pisos, vão se deparar com esse grande obstáculo.

Na ocasião do anúncio das obras, há quase cinco anos, o projeto de implantação de pisos táteis foi comemorado porque, em tese, proporcionaria mais autonomia aos deficientes visuais. No entanto, hoje esses pisos mais parecem um item decorativo sem utilidade prática porque os postes não foram retirados, como havia sido prometido, e ainda atrapalham a passagem daqueles que não enxergam.

Esse desafio, o músico Alcemir da Cruz Belmiro, de 35 anos, enfrenta todos os dias. Ele, que perdeu a visão aos 21 anos, precisou passar por um longo processo de adaptação antes de se aventurar pelas ruas de Campos. Hoje, mais seguro, caminha por toda a cidade, mas ainda depende da boa vontade de outras pessoas quando se depara com esses empecilhos no trajeto.

“Todos os deficientes sonham com a independência. Quando soube da implantação dos pisos táteis, pensei que eu teria mais autonomia e facilidade para caminhar pelo Centro Histórico, mas não foi o que aconteceu. A verdade é que eu não me guio pelos pisos para andar em linha reta porque eles não são tão úteis, principalmente devido a esses obstáculos. Além disso, os pisos táteis foram instalados somente em alguns trechos, então eu ainda sou uma pessoa dependente, infelizmente”, lamenta.

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A retirada dos postes e, consequentemente, da fiação aérea, iria contribuir para o “embelezamento” do Centro Histórico. É o que afirma o presidente da Associação dos Comerciantes da Rua João Pessoa e Adjacências (Cajopa), João Waked. Segundo ele, hoje os prédios históricos do município estão ofuscados pelos fios. “O Centro já melhorou bastante, mas infelizmente ainda não tivemos aquele impacto que esperávamos porque a fiação ainda atrapalha a visualização dos bens históricos que ainda existem nessa área”, lamenta.

De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Joilson Barcelos, a gestão anterior da Prefeitura de Campos propôs uma obra ousada quando prometeu remover a fiação aérea das ruas da área central. “O problema está no atraso da conclusão dessa obra. É verdade que seria muito interessante se o Centro de Campos não tivesse esses fios, assim como não há no Centro do Rio de Janeiro, mas o que nos resta é esperar a posição do atual governo para esse assunto”.