POR TAYSA ASSIS e ULLI MARQUES
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Embora a tal luz no fim do túnel pareça cada vez mais distante, as duas instituições contam com a sensibilidade da sociedade para alcançá-la. De forma paradoxal, o Monsenhor Severino vive sua melhor e também sua pior fase dos últimos anos. A nova administração — que assumiu em maio de 2015 — fez inúmeras mudanças, que proporcionaram mais qualidade de vida aos internos. Por meio de doações de empresas, o local passou por uma reforma providencial e, se antes os idosos faziam no máximo três refeições por dia, atualmente fazem seis.
Mas os débitos da antiga administração ainda perseguem os sonhos do novo presidente, Ricardo Luiz, e do advogado Júlio Pizelli, que presta serviço jurídico voluntário na instituição. Segundo eles, existem mais de 30 processos trabalhistas, fiscais e da área cível no nome do asilo. E, enquanto se arrecada aproximadamente R$ 28 mil por mês, só a folha de pagamento de funcionários ultrapassa os R$ 30 mil; fora os R$ 8 mil de encargos sociais (INSS, Fundo de Garantia), R$ 10 mil das contas água e luz e a quantia despendida na compra de insumos, como fraldas, luvas, medicamentos, agulhas e fitas para medir insulina, materiais de higiene/limpeza e alimentação.
Na tentativa de salvar a instituição, foram tomadas algumas medidas com o intuito de arrecadar verbas. Uma delas é o baile voltado para a comunidade, que acontece todas as quintas-feiras a partir das 19h, com música ao vivo. Também são realizados almoços, jantares e cafés beneficentes pelo menos duas vezes ao mês. Mas, de acordo com o presidente, ainda não é o suficiente para tirar o Monsenhor Severino do vermelho. A ideia agora é lançar um carnê para que colaboradores voluntários possam contribuir mensalmente com qualquer quantia, tornando-se sócios do asilo. “O projeto do carnê ainda não saiu do papel, mas logo estará disponível. Nosso objetivo é sensibilizar a sociedade e trazê-la para perto de nós. Sentimos que essa é a única solução possível no momento”, comenta Ricardo.
O amor nos tempos de crise
Papéis que a vida inverteu
Quilza de Almeida Gomes passou boa parte de seus 92 anos se dedicando ao próximo. Durante muito tempo, cuidou da própria mãe, que não a criou. Os papéis se inverteram até que há 17 anos, com a morte da mulher que lhe deu a vida, Quilza se mudou para o Asilo Nossa Senhora do Carmo. Depois de passar a infância, adolescência e boa parte da fase adulta sozinha, solteira e independente, esta lhe pareceu a única opção. Quando criança, aprendeu a bordar e a costurar, habilidades que ainda hoje cultiva em seu quarto. Quando perguntam se é feliz, ela demora a responder. Depois, com firmeza e bastante expressão, diz que sim. Parece não demonstrar nenhum arrependimento por ter vivido assim. Papéis que a vida inverteu
Uma instituição em ruínas
Fundado em 1904, o Asilo Nossa Senhora do Carmo sempre foi um local de visibilidade na cidade. Abandonado nas últimas décadas, atualmente é o lar de 62 idosos. O prédio histórico, depredado e em má conservação, tornou-se um triste cartão postal. A instituição, que tem uma despesa mensal de aproximadamente R$ 90 mil, tenta sobreviver com uma verba repassada pelo município, além de 70% do salário dos idosos que podem contribuir, da renda dos carnês de associados e da publicidade de painéis espalhados em seu terreno. Mesmo assim, é difícil sair do vermelho.
Segundo o presidente do asilo, André Araújo, há necessidade permanente de fraldas geriátricas e alimentos, como carnes. Empresário do setor de autopeças, André sempre contribuiu com a instituição de maneira voluntária. Para ele, desistir não é uma opção. “Por mais que as dificuldades sejam muitas, tenho certeza de que um dia conseguiremos. O que mais nossos idosos precisam, além de todas as questões de infraestrutura, materiais de limpeza e cozinha, é do afeto das pessoas de fora. Não gosto de pensar ou passar uma imagem do asilo como se ele fosse o fim de tudo. Nosso maior desejo e interesse é que a população esteja presente e que, com isso, consigamos transformar ainda mais, com carinho e alegria, a vida de nossos idosos”, afirma.