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Em entrevista ao Terceira Via Sônia Ferreira falou sobre política e família

Sônia Ferreira contou que soube da morte do pai quando estava no seu apartamento na Avenida Atlântica, no Rio

Região
Por Redação
18 de janeiro de 2017 - 0h01
Sônia Ferreira (Foto: Carlos Grevi)

Sônia Ferreira (Foto: Carlos Grevi)

Ela é filha de um dos políticos mais influentes da história de Campos e, sem dúvida, o mais influente da época da ditadura militar. Sônia Ferreira, filha do deputado Alair Ferreira, cuja morte está completando três décadas, falou de sua convivência com o poder, tanto político quanto econômico. Conheceu todos os presidentes militares, sendo de mais de perto o general Figueiredo. Fez algumas revelações, como a amizade do pai com o deputado de esquerda Ulysses Guimarães.

Laços que os historiadores poderiam considerar improváveis. Sônia Ferreira contou que soube da morte do pai, ocorrida em Brasília, quando estava no seu apartamento na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro.

Admitiu que herdou fortuna e que o dinheiro se esvaiu. Da Av. Atlântica, o endereço mais nobre do país, ela foi direto para a beira-mar de Atafona, em São João da Barra, onde o oceano está lambendo a sua bela casa. Falou da relação com o único irmão, Alair Ferreira Filho, que morreu recentemente e também mostrou alguma mágoa pelo fato de que praticamente retiraram a única homenagem que Campos fez para o pai. “ Não cobramos homenagem a ninguém mas, se fizeram, por que retiraram”? Perdeu fortuna, mas nunca a classe. Sônia é uma querida entre todos que a cercam. Confessa que nunca deu uma entrevista de peito aberto e, no final, disse que até gostou.

Como foi ser filha de um dos mais poderosos políticos do país, na época do regime militar, o lendário deputado Alair Ferreira? A carreira política dele não influenciou em nada na família. Tenho o maior orgulho do meu pai, não necessariamente como político, mas como pai mesmo, avô e tudo que ele representava para a família. Ele não levava a política para casa. Quando estava com os netos era o avô.

Quem de importante, neste período de uma política conturbada, você conheceu? O Presidente general João Figueiredo, foi o que mais conheci, embora tenha conhecido todos os outros presidentes. Conheci todos os militares. O ministro Mário Andrezza era íntimo de papai, talvez o mais. Jarbas Passarinho e o José Sarney , entre outros.

Seu pai morreu sem aviso prévio fazendo barba no apartamento dele em Brasília. Como a notícia chegou a você? Foi horrível. Um infarto fulminante. Eu soube no Rio, no apartamento da Avenida Atlântica. Iríamos almoçar juntos. Ele estava vindo para o Rio sem saber que estava fazendo sua última barba.

Soube que Sarney, que era o Presidente da República, foi muito gentil com vocês nesta hora ? Ele era o presidente e colocou o avião presidencial a nossa disposição. O corpo de papai veio no avião presidencial. Foi um gesto de grandeza. Falando dos bastidores da vida do seu pai, muitos o definiam como um político de direita, mas ele se relacionava bem com todos, inclusive como os da esquerda.

É verdade que ele e o deputado Ulysses Guimarães eram amigos? Sim. O deputado Ulysses Guimarães era um grande amigo. Papai afirmava que tinha adversários e não inimigos. Que os adversários eram passageiros. Ulysses era sim, amigo de papai.

Como era o seu relacionamento com Alair Ferreira Filho, seu irmão? Era ótimo. Muita gente achava que não. Mas eu e meu irmão nos víamos todos os sábados. Erámos amigos e não somente irmãos. Teve uma época que ele morou no Rio e andava com gente como Ricardo Amaral e personalidades conhecidas. Eu me preocupava com aquela vida noturna e dava conselhos, mas ele não escutava.

No mais, a relação sempre foi muito boa. E a notícia da morte do seu irmão, como desembarcou em você? Foi muito dura. Esses dias estava conversando com a mulher dele, Luzimar sobre isso. Ela é testemunha de que, apesar de pequena, tínhamos formado uma grande família. Sônia, você foi, digamos assim, uma mulher muito rica. Morou de frente para o mar na Avenida Atlântica, o endereço mais nobre do país.

Como é hoje, ter muito menos dinheiro e ver o mar de Atafona quase tomando sua casa? A questão de ter muito dinheiro foi bom, foi um grande esforço do meu pai. Sinceramente, o dinheiro foi embora assim como o vai, veio forte.

E Atafona e a Atlântica? O mar de Copacabana tem uma vista linda, mas em Atafona eu também tenho uma vista linda. O avanço do mar me preocupa sim. Mas ainda espero que uma obra de contenção seja feita como os espigões de Marataízes. Espero que isso seja feito.

Sônia, você optou por morar em Atafona e recentemente respondia pelo Palácio da Cultural de São João da Barra. Você acha que SJB tem uma cultura própria ou é a mesma de Campos? São João da Barra tem uma cultura própria. Tem festas tradicionais que nunca terminam. O carnaval de SJB é o melhor carnaval de rua da região. Tem uma história maravilhosa. Não quero comparar São João da Barra a Campos. Sou campista, mas tenho cidadania sanjoanense. Como você se sente, vendo os pilares da primeira ponte que iria ligar Gargaú a São João da Barra que foram feitos por seu pai? Isso para mim é muito triste. Acho que a outra ponte não deveria ser construída. Os pilares da primeira ponte foram vistoriados e não foram condenados. Se a ponte que papai começou, em 1984, tivesse ficado pronta, São Francisco não iria se separar de São João da Barra.

Já vão fazer três décadas que o deputado Alair Ferreira faleceu. Você acha que Campos foi grata com ele, ou é preciso uma reparação? Acho que o povo não esquece papai de jeito nenhum. Eu acho que alguns políticos tentam apagar a memória do meu pai. Em 1988 deram o nome do meu pai a parte da Avenida 28 de Março. Papai mereceu uma pequena placa dizendo que parte da avenida tinha seu nome. Depois fizeram uma pirâmide invertida em homenagem a ele próximo à avenida. Em seguida, tiraram e nunca mais colocaram nada no lugar. Nunca cobramos homenagem ao meu pai, mas se fizeram por que desfizeram? Nunca entendi isso.