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Crianças constroem área de lazer em comunidade violenta

O trabalho dos pequenos é coordenado pelo motorista Edimilson que destaca a importância do projeto dentro da comunidade

Campos
Por Redação
30 de setembro de 2015 - 12h42

As crianças encaram a manutenção da praça como um trabalho (Foto: Silvana Rust)

Dizem por aí que é na necessidade que surgem as grandes ideias. Em uma das áreas com o maior índice de criminalidade do município e esquecida pelo poder público — o bairro Terra Prometida, em Guarus — o ditado pôde ser comprovado. Lá, a vontade de ser criança falou mais alto: a falta de uma área de lazer despertou a criatividade do pequeno Jorley Moura, de 10 anos, e com o incentivo do vizinho, Edimilson Batista Campos, os moradores do lugar ganharam uma praça sustentável. O espaço, que era tomado por mato e barro, hoje funciona como uma área de convivência colorida e única.

Pneus, pedaços de madeira, garrafas pet, sucatas, mudas de plantas, blocos de cimento e, é claro, muita força de vontade foram os elementos utilizados para construir a pracinha. Cerca de quinze crianças com idades entre sete e 10 anos, participaram de todas as etapas, desde a ordenação do espaço, pintura, manutenção das plantas e até mesmo a vigilância. “Fico lá do terraço da casa da minha avó vigiando para ver se alguém está destruindo nossa praça”, disse Mariana Pereira da Silva, de 7 anos.

Jorley contou à reportagem do jornal Terceira Via que se sentia triste por não ter onde brincar. Ele desabafou com o motorista de caminhão, Edmilson, e pediu ajuda para criar uma pracinha que pudesse ser utilizada por todas as crianças e até mesmo pelos adultos do bairro. Edmilson viu na ideia a oportunidade de ensinar valores importantes para os pequenos. “Quando eu me mudei para o bairro, eu percebi que as crianças brincavam no meio do mato porque não tinham um espaço decente para isso. Nós que moramos na Terra Prometida somos esquecidos pelas autoridades e, como eu sei que não adianta ficar pedindo ajuda, decidi embarcar no sonho desses meninos”, contou.

Edmilson reuniu as crianças e pediu a colaboração delas para capinar o espaço. Na ocasião, ele trabalhava em uma empresa de concreto e pediu à chefia para levar as sobras para o bairro. Ele cimentou o espaço, confeccionou os blocos e comprou as tintas coloridas com o próprio dinheiro. As crianças pintaram o chão e os bancos e plantaram as flores. Já Edimilson instalou a rede elétrica e ainda construiu um quebra-molas em frente à nova praça para evitar que os carros passassem em alta velocidade enquanto os pequenos brincavam.

O trabalho das crianças é recompensado: Edimilson paga os meninos com moedas de R$ 1 ou R$ 0,50 ou com salgados na lanchonete do bairro. “Fico muito feliz de ver alguém comprometido com o futuro dos meus filhos e das outras crianças. Edmilson conversa muito com eles e os resultados já podem ser vistos. Hoje, eles estão mais educados do que nunca. Nós, que moramos em uma comunidade carente, sabemos que não é difícil ver esses meninos indo para o caminho errado. Mas aqui eles estão aprendendo o valor do trabalho. É uma atitude simples, mas com um valor inestimável”, disse Lenina Monteiro Leandro, mãe de Kaique e Kailan, de 10 e 9 anos.

Jorley, Kaique e Alan Sérgio são os Chefes 1, 2 e 3, respectivamente. Eles são os responsáveis por designar aos outros as tarefas e conferir se o serviço está sendo bem feito quando Edilson está trabalhando. Em meio ao compromisso de cuidar da pracinha, ainda sobra tempo para se divertir. Lohany Pereira da Silva, de 10 anos, disse que sua vida mudou depois que o espaço foi construído. “Agora nós estamos mais unidos, brincamos sempre juntos e ainda temos o orgulho de dizer que fomos nós que fizemos essa praça”, destacou.

Edimilson disse que, se fosse possível, ele faria mais. Ele ainda está procurando alguém que possa conseguir alguns brinquedos para colocar na pracinha. “Eu amo de coração essas crianças. Elas e meus filhos são a razão da minha vida. Espero que elas preservem essa inocência e essa vontade de trabalhar para conquistar o que desejam. Essa será a minha maior recompensa”, concluiu.